Um novo estudo destaca a crescente preocupação com o uso de chatbots entre adolescentes, sugerindo que essas interações podem ser mais satisfatórias do que conversas com humanos. Pesquisadores apontam que o uso excessivo dessas ferramentas pode estar ligado a altos níveis de solidão e à diminuição das interações sociais reais.
A solidão como crise de saúde pública
Em uma era em que a solidão é considerada uma crise de saúde pública, equiparada aos riscos de fumar 15 cigarros por dia, adolescentes estão cada vez mais recorrendo a chatbots para companheirismo. De acordo com a pesquisa, 10% dos adolescentes afirmam que se sentem mais confortáveis conversando com chatbots do que com pessoas reais, e um em cada três prefere esses assistentes digitais para discutir assuntos sérios.
Os pesquisadores, Susan Shelmerdine e Matthew Nour, conduziram um estudo na busca de entender como o uso de AI se relaciona com a crescente epidemia de solidão entre jovens. Enquanto chatbots desenvolvidos especificamente para saúde mental têm mostrado potencial para ajudar a reduzir sintomas de depressão e ansiedade, o uso cotidiano de chatbots gerais pode resultar em vínculos emocionais insalubres.
O gap de cuidados em saúde mental
A dificuldade para acessar cuidados de saúde mental se tornou um desafio crescente, especialmente no Reino Unido, onde um terço das pessoas espera até três meses ou mais para obter os serviços necessários. Este gap entre a necessidade e a disponibilidade dos serviços de saúde mental tem alimentado a adoção de alternativas, como chatbots.
A habilidade moderna dos chatbots de simular conversas humanas é um dos fatores que atraem usuários. Estima-se que 36% dos pais relatem que seus filhos utilizam chatbots para suporte emocional. No entanto, enquanto chatbots dedicados para terapias vêm mostrando alguns resultados positivos, a maioria dos usuários está em contato com modelos de chatbot mais gerais que podem não servir como a melhor opção para apoio emocional significativo.
Relação entre uso intenso e solidão
Um estudo realizado pelo OpenAI e MIT analisou o uso de ChatGPT por 981 participantes ao longo de quatro semanas. Aqueles que o usaram de forma mais intensa relataram níveis mais altos de solidão e interações reduzidas com amigos e familiares. Este dado evidencia que o uso intenso de chatbots pode não apenas ser um reflexo da solidão, mas um fator que agrava o problema.
Embora os chatbots sejam atraentes por sua disponibilidade e falta de julgamento, essas mesmas características podem levar a laços emocionais insalubres. Dados apontam que um em cada três adolescentes usa toneladas de IA como interação social, levantando questões sobre o impacto a longo prazo na formação de relacionamentos humanos genuínos.
Orientações para médicos
Diante das descobertas, os pesquisadores recomendam que médicos comecem a considerar o uso problemático de chatbots como um novo fator de risco ao avaliar pacientes com preocupações de saúde mental. Sinais de alerta incluem padrões de uso compulsivo, ansiedade ao não poder acessar o chatbot, e a percepção do bot como um amigo. Médicos devem estar atentos a esses sinais, especialmente entre os adolescentes que podem procurar mais apoyo emocional em IAs do que em interações humanas.
O caminho a seguir
Embora a discussão se concentre nos perigos do uso excessivo de chatbots, os pesquisadores também apontam que essas ferramentas poderiam ser utilizadas como um meio de conexão humana. Iniciativas que utilizam IA para realizar triagens e ajudar na identificação de sinais de solidão nos comportamentos de conversa podem ajudar a fomentar buscas por apoio nas redes de amizade e familiares.
Por fim, a necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre os riscos associados à interação humano-chatbot é evidente. Há uma urgência em desenvolver habilidades clínicas que ajudem os médicos a avaliar o uso dos pacientes e em criar intervenções baseadas em evidências para combater a dependência do uso de chatbots, visando o bem-estar social e emocional a longo prazo.
Se você ou alguém que você conhece está lutando com a solidão ou preocupações de saúde mental, consulte um profissional qualificado para obter ajuda.
Fonte: Estudo realizado por Susan C. Shelmerdine e Matthew M. Nour, publicado na The BMJ.

