A recente visita do cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, a Moçambique trouxe à tona a grave situação enfrentada pela população de Cabo Delgado, um estado que vive sob o impacto de uma insurreição jihadista que resulta em milhares de deslocados. A viagem, que ocorreu de 5 a 10 de dezembro, foi marcada por momentos de crise, mas também de esperança e apoio espiritual.
Cabo Delgado: O cenário preocupante
Durante a entrevista, Parolin destacou que Cabo Delgado, situado ao norte do país, corre o risco de ser esquecido em meio a tantos outros conflitos ao redor do mundo. Desde 2017, a violência terrorista se intensificou, resultando em aproximadamente 765.000 deslocados internos, uma tragédia humanitária que exige atenção urgente. A realidade enfrentada por esses deslocados é angustiante; muitos vivem em condições precárias, sem acesso a alimentos, água potável e educação.
A recepção calorosa e os desafios do país
Parolin também recordou a recepção calorosa do povo moçambicano, que mesmo em meio a dificuldades não perdeu a alegria e a esperança. Ele mencionou a importância do diálogo nacional inclusivo, que busca promover a paz e a reconciliação no país, especialmente após os conflitos sociais e políticos recentes.
O cardeal lamentou que, após o impressionante acolhimento que testemunhou durante sua visita apostólica com o Papa Francisco em 2019, a realidade de agora é marcada pela dor e pelo sofrimento de muitos. “As crianças, que representam o futuro, estão vivendo um verdadeiro cárcere a céu aberto”, ressaltou. As dificuldades enfrentadas por esses jovens são exacerbadas pela falta de oportunidades e de acesso à educação, o que compromete seriamente seu futuro.
As causas do conflito em Cabo Delgado
O cardeal salientou as complexas causas que alimentam a insurreição jihadista na região. A radicalização começou a surgir antes de 2017 e foi alimentada por fatores socioeconômicos como a pobreza e o desemprego. “Os grupos armados, como o Ahlu Sunna Wa Jama, buscam explorar a frustração da juventude local em relação à exploração dos vastos recursos naturais de Moçambique, que não beneficiam a população em geral”, explicou Parolin.
O papel da Igreja em momentos de crise
A Igreja Católica tem desempenhado um papel fundamental no apoio aos deslocados. Comunidades religiosas, em vez de fugir da insegurança, têm aberto suas portas para os que mais precisam. A Caritas Diocesana de Pemba, por exemplo, tem trabalhado incansavelmente para oferecer ajuda humanitária, colaborando com organizações da ONU e da sociedade civil para atender às necessidades básicas da população.
Um apelo à comunidade internacional
Durante a entrevista, Parolin fez um pedido claro à comunidade internacional: não esquecer Cabo Delgado e seu povo. Ele destacou que, embora tenham sido enviados esforços para restaurar a segurança, há o risco de que o conflito caia na categoria de “conflitos esquecidos”. O cardeal pediu que a comunidade internacional mantenha sua atenção sobre esta tragédia humanitária, ressaltando a importância da oração e da caridade fraterna.
Segundo ele, “A oração e o apoio às iniciativas de ajuda podem fazer a diferença, especialmente neste período em que nos preparamos para comemorar o Natal. Que o Príncipe da Paz, nascido em Belém, traga consolo e esperança a esta querida terra de Moçambique”.
Como ajudar?
Por fim, Parolin convidou todos a se unirem em solidariedade com os que sofrem, enfatizando a importância de uma resposta global à crise em Cabo Delgado. “Precisamos lembrar de nossos irmãos e irmãs e não deixá-los sozinhos na luta por dignidade e paz”, concluiu.
A visita do cardeal refere-se a desafios que vão além das fronteiras de Moçambique. A mensagem de esperança e engajamento deve ressoar em todo o mundo, convocando cidadãos a agirem em prol da paz e da solidariedade.
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