Nos Estados Unidos, um clima de medo cresce à medida que cidadãos começam a carregar seus passaportes em suas rotinas diárias, em resposta a uma série de operações de imigração que têm gerado relatos alarmantes de detenções de cidadãos. A onda de pavor se intensificou com a administração Trump, que direcionou suas políticas de imigração contra comunidades minoritárias, especialmente pessoas de origem latina. Este fenômeno foi amplamente documentado e discutido por diversos meios de comunicação, como o The Guardian, que fez um retrato da realidade enfrentada por cidadãos americanos que, inusitadamente, sentem a necessidade de provar sua nacionalidade em seu próprio país.
Realidade em Minneapolis: o caso de Munira Maalimisaq
Munira Maalimisaq, uma enfermeira que dirige uma clínica em Minneapolis, começou a levar seu passaporte consigo diariamente a partir de dezembro, quando agentes federais aumentaram suas atividades na cidade. Munira, que é cidadã americana naturalizada há mais de 20 anos, afirmou que antes só carregava seu passaporte em viagens internacionais. Porém, com o aumento das operações de imigração, principalmente dirigidas contra a comunidade somali, seus pacientes começaram a demonstrar receio em frequentar a clínica.
A missão da Inspire Change Clinic, onde Munira trabalha, é atender comunidades marginalizadas, e ela percebeu que muitos pacientes, temendo possíveis detenções, optavam por apresentar passaportes ao invés de carteiras de motorista ao se registrarem. “É angustiante saber que muitos de nossos pacientes podem ser visados. Com isso em mente, sinto a obrigação de garantir minha segurança e a deles,” disse Munira, que entende que sua aparência pode colocá-la sob o escrutínio de agentes de imigração.
A pressão em Kenner: a experiência de Walter Cruz Perez
Walter Cruz Perez, um cidadão americano desde 2022, teve uma vida tranquila em Kenner, Louisiana, até que as ações do governo federal contra imigrantes começaram a aumentar. Depois de ver casos de cidadãos latinos detidos por agentes de imigração apenas por não terem seus passaportes, ele decidiu que deveria carregar o seu passaporte sempre que saísse de casa. “É estressante. A realidade é que você pode ser abordado a qualquer momento e ter que provar sua legalidade,” comentou Walter, que começou a colocar seu passaporte em uma bolsa plástica para protegê-lo da chuva e garantir que estivesse em boas condições caso precisasse apresentá-lo.
Desafios em Nova Orleans: Carola Lopez
Carola Lopez, que cresceu em Porto Rico, também se viu obrigada a carregar seu passaporte desde que foi parada ao acaso por autoridades no Texas em 2015. Apesar de ser cidadã americana, Carola sente que sua identidade é constantemente questionada. “É triste que tenhamos que provar onde pertencemos, mesmo tendo cidadania,” desabafou Carola, expressando seus sentimentos sobre a crescente pressão e insegurança que cidadãos americanos enfrentam durante este período de vigilância intensa.
Medo em Los Angeles: relatos de Miguel Rios
Miguel Rios, um cidadão de Los Angeles, também começou a carregar cópias de seu passaporte quando as detenções massivas começaram na região. Ele cancelou viagens planejadas e desencorajou seus familiares de participar de grandes encontros para evitar qualquer risco. “Ninguém deveria viver com esse nível de medo. A desumanização dos imigrantes e cidadãos latinos é uma realidade alarmante,” disse Miguel, compartilhando sua frustração com o tratamento que está sendo dado a pessoas que, mesmo sendo cidadãos, enfrentam discriminação.
Uma nova visão de segurança: a experiência de Ana
Ana, uma educadora da Califórnia do Sul, ficou alarmada com o caso de uma cidadã americana que foi detida por agentes de imigração. “Se isso pode acontecer com ela, pode acontecer comigo,” refletiu Ana, que agora carrega seu passaporte constantemente, mesmo como forma de se proteger. “Estou sempre ciente de que, mesmo sendo cidadã, a sociedade não enxerga todos nós como iguais. É triste e perigoso viver assim,” concluiu.
Essas histórias refletem um aspecto perturbador da realidade de muitos cidadãos americanos que, devido à cultura de medo, sentem a necessidade de sempre carregar documentos que provem sua cidadania. A pressão governamental e a estigmatização de comunidades específicas estão transformando interações diárias em momentos de preocupação e incerteza, gerando uma pergunta alarmante: até onde precisamos ir para nos sentirmos seguros em nossas próprias casas?
As experiências desses cidadãos são um retrato de um momento crítico nos EUA, onde o medo da deportação e da discriminação se estende até mesmo aqueles que, por direito, deveriam se sentir seguros e aceitos.


