Após longas cinco décadas, finalmente foi identificada a sepultura do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr. O anúncio foi feito no dia 23 de agosto pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que confirmou a emissão da certidão de óbito pelo 4º Ofício do Gama, no Distrito Federal. Este importante documento foi gerado a partir de uma solicitação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
A busca por justiça e reconhecimento
O corpo de Tenório Jr. foi finalmente identificado em setembro deste ano, quase 50 anos após seu desaparecimento em Buenos Aires. O reconhecimento foi feito através de exames de impressões digitais, com o apoio da Justiça argentina e da Embaixada do Brasil. Este caso é emblemático, pois revela os horrores da repressão durante o período da ditadura argentina, que ficou conhecido como a Operação Condor, um esforço coordenado entre as ditaduras sul-americanas para eliminar opositores políticos.
No mesmo mês de setembro, a família do pianista recebeu um laudo oficial que detalhava a causa da morte. De acordo com o documento, Francisco Tenório foi brutalmente assassinado com cinco disparos: um na cabeça, dois no braço esquerdo e três no tronco.
Quem foi Tenório Jr.
Francisco Tenório Cerqueira Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 4 de julho de 1940, no bairro das Laranjeiras. Desde cedo, desenvolveu uma paixão pela música, iniciando sua jornada musical aos 15 anos, primeiro com acordeão e violão, até encontrar o piano, que se tornaria seu maior aliado e o levaria a se firmar como um dos principais nomes do samba-jazz e da bossa nova.
Na década de 1970, Tenório Jr. se destacou no famoso Beco das Garrafas, em Copacabana, um reduto da música instrumental brasileira. Com seu estilo refinado e técnica apurada, participou de festivais e gravações que deixaram uma marca indelével na música brasileira. Ele colaborou com grandes artistas, como Vinicius de Moraes, Toquinho, Wanda Sá, Leny Andrade e Edson Machado, sendo especialmente reconhecido por sua habilidade como acompanhante em shows e gravações.
O trágico desaparecimento
Em março de 1976, Tenório Jr. embarcou em uma turnê pela Argentina e Uruguai ao lado de renomados músicos, incluindo Vinicius de Moraes. Após uma apresentação no Teatro Gran Rex, em Buenos Aires, ele saiu do hotel Normandie e desapareceu sem deixar rastros. Investigações posteriores revelaram que Tenório Jr. foi confundido com um militante político e detido por agentes do serviço secreto da Marinha argentina. Acredita-se que ele foi levado para a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), um notório centro clandestino de detenção e tortura, onde permaneceu por nove dias antes de ser cruelmente executado.
O corpo de Tenório Jr. foi encontrado em 20 de março de 1976 em um terreno baldio e enterrado como indigente no Cemitério de Benavídez. Naquela época, seu desaparecimento não teve a atenção merecida no Brasil, devido à severa censura imposta pela ditadura militar.
Reflexão e memória
A identificação do corpo de Tenório Jr. é um importante marco na luta por justiça e memória histórica. O reconhecimento representa não apenas a busca por verdade, mas também uma maneira de homenagear milhares de vítimas da repressão que ocorreram na América Latina durante aqueles terríveis anos. A música, arte na qual Tenório Jr. fez história, ganha uma nova dimensão ao recordar os que se passaram, e sua trajetória não será esquecida.
Essa história nos lembra da importância de se lutar contra a opressão e ao mesmo tempo valorizar nossa cultura e nossas referências musicais. Tenório Jr. pode não estar mais fisicamente presente, mas seu legado musical continuará a ecoar por gerações.
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