Em um novo capítulo de tensões entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, o ministro Flávio Dino determinou a suspensão de um jabuti — item estranho ao texto — incluído em um projeto que ressuscita emendas parlamentares não pagas pelo governo no montante de R$ 1,9 bilhão, abrangendo até aquelas que já foram canceladas. Essa decisão, tomada na quarta-feira, foi motivada pela preocupação com a transparência e a legalidade na execução orçamentária, uma questão que tem gerado polêmicas nos últimos anos.
O jabuti no projeto de emendas
O jabuti foi inserido no projeto de reforma fiscal que propõe uma redução de 10% nas renúncias fiscais, como solicitado pelo relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Este projeto ainda aguarda a sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a antecipação do STF marca um momento decisivo na relação entre os Poderes. Em sua decisão liminar, Dino argumentou que os restos a pagar regularmente cancelados não existem mais juridicamente e sua revalidação implica em uma nova autorização de gasto, o que seria ilegal sem amparo na lei orçamentária.
Consequências da decisão
O ministro ressaltou que a proposta fere o princípio da anualidade orçamentária e compromete a segurança jurídica ao tornar imprevisível o encerramento das obrigações do Estado. Dino mencionou que a reabertura da possibilidade de emendas já declaradas inconstitucionais contraria o esforço de manter o equilíbrio fiscal diante das dificuldades financeiras enfrentadas pelo Brasil.
Este embate tem sido um desafio constante para o governo, que busca articular a execução de recursos públicos de forma eficiente e transparente, enquanto o Congresso se defronta com a necessidade de responder às exigências eleitorais e estabelecer a distribuição de emendas que beneficiem suas bases.
A reação do Congresso
A decisão do STF provocou reações variadas entre os parlamentares. Aguinaldo Ribeiro defendeu a inserção do jabuti como uma medida de preservação dos direitos do governo sobre os restos a pagar, afirmando que atendeu a uma demanda do Executivo. No entanto, a medida foi vista por muitos como um movimento que contraria a articulação do governo, gerando um clima de descontentamento e perplexidade no Senado, principalmente entre aqueles que alinham suas propostas às diretrizes do governo.
Com a devida autorização para aglutinar restos a pagar e financiar projetos maiores, a proposta foi considerada uma estratégia para otimizar o uso de recursos. No entanto, a liminar do STF pode frear ou modificar essa abordagem, o que ressalta a tensão entre os direitos legislativos e o controle judicial sobre a execução orçamentária.
Histórico de tensões entre os poderes
Nos últimos anos, o STF tem intensificado suas exigências de transparência e fiscalização sobre as emendas parlamentares, levando a uma série de ações, incluindo a suspensão de pagamentos bilionários e exigindo a identificação dos autores das emendas. A Polícia Federal foi autorizada a realizar operações visando investigar essas estruturas, criando um clima de apreensão entre os parlamentares.
O crescente embate entre o Legislativo e o Judiciário reflete uma mudança no cenário político brasileiro, onde o Congresso, em 2025, chegou a alocar cerca de R$ 50 bilhões para emendas, representando 20% das despesas discricionárias do governo, um dos maiores índices do mundo. Para 2026, a previsão é que esse total chegue a R$ 61 bilhões, levantando a preocupação do STF quanto ao controle e à gestão financeira do país.
Próximos passos e implicações
A liminar concedida por Dino ainda será apreciada pelo plenário do STF, o que pode resultar em novas diretrizes e uma definição mais clara sobre o papel do Congresso na execução orçamentária. Enquanto isso, o clima de incerteza paira sobre os parlamentares, que ameaçam aprovar propostas que limitem as decisões do Judiciário e estabeleçam mandatos para ministros do STF, revelando a tensão contínua e a luta por poder entre os dois poderes.
Em um contexto de graves dificuldades fiscais, o desafio permanece: como equilibrar as necessidades do povo brasileiro com uma gestão orçamentária eficiente e transparente. A definição da situação atual terá implicações diretas nas finanças públicas e na confiança da população nas instituições governamentais.



