O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um investimento significativo de R$ 2 milhões para a restauração, em 4K, de três importantes títulos da filmografia de Glauber Rocha, um dos mais influentes cineastas do Brasil. Este patrocínio tem como objetivo preservar e revitalizar obras que se tornaram marcos na história do cinema nacional.
Os filmes contemplados no projeto
Os filmes escolhidos para o restauro são “História do Brasil” (1974), um documentário que explora os aspectos políticos e sociais do Brasil, e os curtas-metragens “Amazonas, Amazonas” (1966) e “Di Glauber” (1977). O curta “Di Glauber” é um registro emocional realizado pelo próprio diretor durante o velório do artista plástico Di Cavalcanti, destacando a relação íntima de Glauber com a arte e a sociedade da época.
Essas obras estão atualmente sob a guarda da Cinemateca Brasileira e, após a conclusão do restauro, novas cópias estarão disponíveis para circulação em festivais nacionais e internacionais. Além disso, os filmes farão parte da mostra “BNDES Glauber Rocha”, que será realizada em São Paulo, proporcionando ao público a oportunidade de reviver o legado do cineasta em formato de alta resolução.
A trajetória de Glauber Rocha
Glauber Rocha nasceu em 14 de março de 1939, em Vitória da Conquista, na Bahia. Desde muito jovem, demonstrou interesse pelas artes, escrevendo peças e atuando em produções teatrais. Sua carreira cinematográfica começou nos anos 1960, após abandonar o curso de Direito para se dedicar ao cinema. Rocha se tornou um símbolo do movimento Cinema Novo, que buscava uma nova linguagem cinematográfica, mais conectada à realidade brasileira e menos dependente das influências do cinema americano.
Com uma postura provocadora, Glauber defendia um cinema comprometido com a realidade social do Brasil, e essa ideia ficou evidente em suas obras. Sua abordagem inovadora não apenas refletiu problemas sociais, mas também propôs uma nova estética no cinema brasileiro, rompendo com padrões narrativos convencionais.
Conflitos e exílio
A trajetória de Glauber não foi isenta de conflitos. Sua visão crítica e suas posições políticas o colocaram em desacordo com o regime militar instaurado no Brasil em 1964. Visto como uma figura subversiva, Glauber se exilou em Portugal, onde continuou a desenvolver seu trabalho enquanto vivia longe de sua terra natal.
Impacto e reconhecimentos
Ao longo de sua carreira, Glauber Rocha assinou 18 filmes, sendo “Terra em Transe” e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” alguns dos títulos mais aclamados. “Terra em Transe” em particular lhe rendeu diversos prêmios internacionais, incluindo uma importante premiação no Festival de Cannes e o Prêmio Luis Buñuel na Espanha. Essas conquistas solidificaram sua posição como um dos principais cineastas de sua geração.
Os filmes de Glauber não apenas conquistaram prêmios, mas também avançaram o discurso social no Brasil, trazendo à tona questões urgentes e relevantes. Sua capacidade de infundir crítica social em uma linguagem cinematográfica inovadora estabeleceu um legado que continua a ser celebrado e estudado até hoje.
A relevância do restauro
A restauração dos filmes de Glauber Rocha em 4K é um passo importante para a preservação do cinema brasileiro. Esses filmes representam mais do que uma época; eles são a expressão de uma luta por uma identidade cultural e artística. Ao trazer essas obras de volta à vida em formato digital, o BNDES e a Cinemateca Brasileira estão garantindo que novas gerações possam acessar e apreciar a riqueza do cinema nacional.
Além disso, a volta desses clássicos aos festivais representará uma oportunidade valiosa para as discussões sobre a arte e o impacto social do cinema, permitindo que o legado de Glauber Rocha continue a inspirar cineastas e público ao redor do mundo.
O restauro, portanto, não é apenas técnico; ele é uma celebração do cinema brasileiro e um passo vital para assegurar que vozes como a de Glauber Rocha permanecem em nossa memória coletiva.


