Brasil, 22 de dezembro de 2025
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Polêmica no Congresso: Jabuti tenta reverter R$ 1,9 bi em emendas

A recente inclusão de um artigo no projeto de lei do governo que reduz em 10% as renúncias fiscais provocou uma controvérsia significativa no Congresso Nacional. O item, que foi rotulado como “jabuti” por não ter relação direta com a proposta original, visa permitir uma recuperação de R$ 1,9 bilhão em emendas parlamentares que não foram pagas entre 2019 e 2023. Essa manobra, utilizada por deputados para retomar emendas em andamento ou paralisadas, levanta questões sobre a transparência e a legitimidade do processo legislativo no Brasil.

A inclusão do jabuti e suas implicações

O relator na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), justificou a inclusão do artigo a pedido do governo, destacando a necessidade de preservar os restos a pagar. “Eu atendi a uma demanda do governo ao inserir esse dispositivo, para não se perder esse espaço orçamentário”, declarou Ribeiro. No entanto, a inserção desse dispositivo não foi bem recebida por setores do governo e por parlamentares, uma vez que se considera que ele reabre discussões sobre recursos do chamado orçamento secreto, alvo de polêmicas jurídicas e administrativas.

O Senado, sob a relatoria do líder do governo, Randolfe Rodrigues (PT-AP), manteve o trecho controverso, mas o Planalto se esforça para se desvincular do acordo, cuja discussão continua gerando tensão entre os Poderes Executivo e Legislativo.

As críticas e a reação do STF

O ministro da Justiça, Flávio Dino, criticou o jabuti ao qualificar a tentativa de reabertura de emendas não pagas como algo que contraria princípios de transparência. Dino destacou que “restos a pagar regularmente cancelados deixam de existir no plano jurídico”, implicando que revalidá-los seria equivalente a criar novas autorizações de gasto sem respaldo na legislação vigente. Essa crítica reflete a tensão crescente entre o STF e o Congresso, em um embate que destoa em meio a um cenário de necessidade de maior controle sobre as emendas e o uso do orçamento.

A decisão de Dino gerou espanto entre os parlamentares, que a interpretaram como um movimento que vai de encontro à articulação em curso, liderada pelo próprio Executivo. A avaliação de que a proposta pode esconder um vício formal de iniciativa também foi destaque, apontando que a gestão financeira é reservada para o chefe do Poder Executivo.

A dinâmica política e as consequências para o governo

Os desdobramentos dessa situação refletem um embate mais amplo entre o STF e o Congresso, que se acirra há dois anos. O Judiciário não apenas considerou o orçamento secreto inconstitucional, mas também vem exigindo maior transparência e promovendo uma fiscalização mais intensa sobre as emendas parlamentares. Isso se desdobrou em autorização para operações de fiscalização por parte da Polícia Federal, sinalizando uma nova dinâmica na relação entre os Poderes.

Diante de um ambiente tão conturbado, diversas análises políticas apontam que se o governo não conseguir trabalhar uma articulação mais eficaz, pode enfrentar dificuldades significativas na sua agenda legislativa. A tensão interna, marcada por atritos entre figuras proeminentes do Executivo, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro Jaques Wagner, apenas agrava a crítica sobre a coesão da base governista.

Com o horizonte da necessidade de sanção ou veto do projeto pelo presidente Lula em 2025, a expectativa é de que o governo desenvolva uma estratégia mais clara para lidar com a avassaladora pressão interna e externa que esse episódio representa.

Assim, a discussão em torno do jabuti e das emendas parlamentares não se resume apenas a questões financeiras, mas se insere em um contexto mais amplo de realinhamento político e de controle orçamentário no Brasil. A importância da transparência e da responsabilidade na administração pública se tornam, cada vez mais, os pilares que sustentam a confiança da população nas instituições.

Essa situação exemplifica um capítulo importante na relação entre o Judiciário e o Legislativo no país, refletindo também um desafio contínuo para a governabilidade, que exige articulações consistentes e respeitosas às decisões judiciais.

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