O padre Tiago Freitas, da Arquidiocese de Braga, lançou um novo livro intitulado “Quando os cristãos (não) sentem a fé. Discernir com estilo sinodal”, que busca esclarecer e aprofundar o entendimento da sinodalidade dentro do contexto atual da Igreja. A obra aborda a importância do sensus fidei, ou sentido da fé, e que deve ser vivido na rotina de cada cristão, conforme as diretrizes do Sínodo sobre a sinodalidade, iniciado pelo Papa Francisco.
A relevância do discernimento sinodal
Freitas argumenta que o discernimento deve incluir a diversidade de níveis de compromisso dos fiéis com a comunidade e a fé. No livro, ele reflete sobre o compromisso de cada indivíduo no caminho de busca por Deus e pela Igreja. “É essencial que todos participem do processo de discernimento, levando em consideração os diferentes graus de envolvimento das pessoas”, afirma o sacerdote.
Este esforço é celebrado no contexto dos 60 anos da Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, um documento fundamental que destaca a importância da Igreja na vida dos cristãos. Freitas menciona uma conversa com o Cardeal Mário Grech, em que foi ressaltada a participação ampla de todos no processo de discernimento. Contudo, o padre destaca uma realidade: “Alguns vivem suas vidas de fé de maneira muito participativa, enquanto outros, apesar de batizados, podem agir de forma completamente diferente.”
Critérios exigentes e a realidade da fé
Ao abordar os critérios estabelecidos pela Igreja para o exercício do sentido da fé, o padre Tiago observa que estes são, de fato, exigentes. “A escuta da Palavra de Deus, comprometimento com a vida comunitária, adesão ao magistério e vida de santidade são aspectos que esperamos que os cristãos fiéis sigam. Contudo, é importante reconhecer a diversidade de situações das pessoas”, ressalta.
Ele faz uma observação relevante ao afirmar que é desafiador esperar que todos cumpram os critérios devido à realidade heterogênea, onde muitos se identificam como crentes por cultura, embora não pratiquem a fé ativamente. “Diante disso, devemos olhar com atenção e acolher aqueles que buscam um caminho, mesmo que fora dos padrões tradicionais”, complementa.
Competências e vozes no discernimento
No cerne de sua obra, Freitas discute a ideia de que a sinodalidade exige entender que existem distintos graus de competência no processo de discernimento. Ele fala sobre a “semente da Palavra” que pode existir em cada pessoa, mesmo nas que se afastaram da prática religiosa, e enfatiza que até os não crentes podem ter um papel relevante nesse contexto: “A boa vontade e a colaboração com a Igreja, mesmo fora do contexto da fé, podem trazer uma visão nova e instigante.”
Em suas considerações, o sacerdote destaca que o “bom senso” é fundamental para a inclusão e aceitação no processo de discernimento. Ele propõe que esta abordagem livre de preconceitos pode ajudar na construção de vínculos mais profundos entre a Igreja e a sociedade em geral.
Próximos passos para a Igreja em Portugal
O livro de padre Tiago Freitas emerge num momento crucial para a Igreja em Portugal, onde os bispos, durante a reunião plenária de novembro, enfatizaram a implementação do Documento Final do Sínodo. Estamos à beira de um II Encontro Sinodal Nacional agendado para o dia 10 de janeiro de 2026, como declarado pelo padre Manuel Barbosa, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa.
Neste contexto, as orientações da Assembleia visam reforçar a importância de envolver todos os membros da Igreja nos processos de transformação e renovação, dando voz a essa diversidade que o padre Tiago tão bem descreve em seu livro. A caminhada sinodal representa uma oportunidade para a Igreja se reaproximar de seus fiéis e de toda a sociedade, buscando incessantemente o discernimento do espírito que a guia.
A obra “Quando os cristãos (não) sentem a fé” do padre Tiago Freitas surge como um convite à reflexão e à prática, desafiando os cristãos a terem coragem para viver uma fé ativa e sinodal, em comunhão com as diretrizes e apelos contemporâneos.
Tiago Freitas é um sacerdote de 41 anos, docente da Universidade Católica Portuguesa e especialista em temas de ecumênico e diálogo inter-religioso. Sua formação acadêmica inclui um doutorado em Teologia Pastoral, atestando sua profunda dedicação ao estudo e à prática da fé cristã.
Laudetur Iesus Christus


