Os médicos voluntários que trabalharam em Gaza durante os meses mais intensos do conflito Israel-Hamas revisitam as lembranças de cenas de destruição, hospitais lotados e sofrimento intenso, mesmo após o cessar-fogo iniciado em 10 de outubro. Para eles, o impacto emocional permanece, marcado por imagens de caos e dedicação extrema.
Relatos de uma experiência única e traumática
Dr. Tanya Haj-Hassan, especialista em terapia intensiva jordaniana-americana, relata que suas missões em março e fevereiro de 2024 foram as mais difíceis de sua carreira. “Foi como o Apocalipse. Foi horrível. Não lembro de cuidar de uma única criança que tivesse sido trazida pelos pais”, conta. Ela observa que muitas crianças chegaram às emergências carregadas por vizinhos, não por familiares.
Outros médicos voluntários mencionam experiências semelhantes. Dr. Sarmad Tamimy, cirurgião reconstrutor de Nottingham, Inglaterra, que realizou duas missões no território, afirma que nada em sua trajetória de mais de 25 anos o preparou para a escala de destruição e o sofrimento que presenciou. Já a médica italiana Livia Tampellini, da Médicos Sem Fronteiras (MSF), destacou a dificuldade de transitar emocionalmente após o retorno para casa.
Impacto duradouro e condições de saúde em Gaza
Segundo dados da Secretaria de Saúde de Gaza, mais de 70 mil palestinos foram mortos desde 7 de outubro de 2023 e mais de 170 mil ficaram feridos, de acordo com informações da ONU. Estima-se que mais de 80% da infraestrutura da região esteja danificada ou destruída, enquanto metade dos 36 hospitais deixou de funcionar.
Cenário de colapso hospitalar
Com o aumento do número de feridos, os centros médicos ficaram sobrecarregados, enfrentando dificuldades para atender às necessidades de uma população profundamente fragilizada. Para os profissionais que estiveram na linha de frente, as imagens da destruição e do desespero ainda permanecem vívidas, e o trauma psicológico é uma realidade difícil de superar.
Perspectivas futuras e o peso da lembrança
Embora o cessar-fogo traga uma breve pausa, os médicos alertam que os efeitos do conflito ultrapassam as feridas físicas. O impacto psicológico desses profissionais e da população de Gaza exige atenção contínua, pois as memórias e o sofrimento persistem, evidenciando o longo caminho para a recuperação emocional e estrutural da região.


