A Avenida Henry Ford, na Mooca, Zona Leste de São Paulo, é uma das últimas áreas industriais remanescentes na capital paulista, abrigando 228 empresas e empregando cerca de 15 mil pessoas, segundo a Associação Avenida Henry Ford, Mooca & Região. A instalação de um pátio de trens para a futura Linha 16-Violeta, que ligará a região ao centro da cidade, pode resultar na desapropriação da área, gerando tensões entre empresários e o governo.
Impactos da desapropriação na indústria local
Entre os 41 imóveis na área considerados candidatos à desapropriação, empresários de diversas empresas manifestam preocupação com o eventual encerramento de atividades. Alguns estagnaram investimentos, temendo longos períodos de paralisação para transferência de maquinário e trabalhadores, potencialmente para outros municípios. Donos de indústrias, como Matteo Gavazzi Rodriguez, da Alumínios Jangada, avaliam que a mudança poderia levar de oito meses a um ano de indisponibilidade operacional.
Temores de desemprego e deslocamento
Segundo Anderson Festa, presidente da associação da região, a instalação do pátio na Avenida Henry Ford ameaçaria diretamente a atividade de até 60 empresas. Ele sugere que o empreendimento seja realocado para uma área na Avenida Presidente Wilson ou em locais alternativos que minimizem os impactos socioeconômicos. Festa também destaca a possibilidade de realocar famílias que habitariam áreas próximas, oferecendo, por exemplo, complexos habitacionais dignos.
O contexto histórico da área e a resistência local
Especialistas explicam que a região tem forte histórico industrial, iniciada pela antiga estrada de ferro Santos-Jundiaí, que impulsionou o desenvolvimento de bairros como a Mooca, Ipiranga e o ABC Paulista. Apesar disso, o processo de desindustrialização tem alterado o perfil econômico local, com a presença de centros de distribuição e operações de empresas como Mercado Livre, Loggi e La Pastina, que podem ser afetadas pelo projeto.
Anderson Festa relatou que, em 2023, surgiram suspeitas de que a área pudesse ser usada para o novo pátio de trens, levando a duas reuniões com a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI). Em outubro de 2025, os estudos para a linha foram tornados públicos, incluindo áreas de possível desapropriação, e uma consulta pública foi aberta entre 6 de outubro e 24 de novembro para receber opiniões da sociedade.
Preocupações com impactos socioeconômicos
Festa ressalta que o estudo do projeto continua sem análises detalhadas dos impactos sociais e econômicos, o que preocupa as empresas locais, muitas com licenças específicas de operação. A expectativa é que a construção do pátio gere desemprego e reduza o interesse das empresas em permanecer na região, apesar de a Secretaria de Parcerias afirmar que o projeto irá ampliar a mobilidade e criar oportunidades de emprego.
O governo também sugere alternativas, como a instalação do pátio em outra área na região, e promessas de indenizações e remanejamento de famílias em situação irregular. No entanto, o movimento de empresários e moradores indica uma forte resistência à desapropriação na área, potencializando um debate sobre o futuro do polo industrial na zona leste.
Futuro incerto e negociações em andamento
Segundo a Secretaria de Parcerias em Investimentos, o projeto está em fase de avaliação de propostas e coleta de contribuições públicas, com previsão de elaboração dos detalhes finais em primeira versão do edital para o primeiro semestre de 2026. Enquanto isso, empresas como a Alumínios Jangada e a distribuidora de aço Crifér aguardam definições, congelando investimentos e analisando alternativas de localização.
O histórico industrial na região, relacionado à antiga ferrovia e ao desenvolvimento de segmentos diversos, está em tensão com as atuais decisões de urbanismo e mobilidade, refletindo as mudanças na estrutura econômica e urbana de São Paulo.
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