As ações da Alpargatas, empresa controladora da famosa marca de sandálias Havaianas, enfrentaram uma queda significativa de R$ 200 milhões na Bolsa de Valores, em meio a uma controvérsia gerada pelo novo comercial estrelado pela atriz Fernanda Torres. O anúncio, que foi alvo de críticas de políticos conservadores, teve como pano de fundo um boicote convocado por figuras da direita que reprovam a propaganda, alegando que ela faz uma crítica velada à sua ideologia.
Polêmica e impacto financeiro
No comercial, Fernanda Torres transmite a mensagem de que não deseja que as pessoas comecem o novo ano “com o pé direito”. A atriz sugere que as pessoas deveriam ir com “os dois pés” e se permitir viver plenamente. “Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa, todo mundo ama”, diz Fernanda no comercial.
Após a sua divulgação, houve uma rápida reação por parte de alguns políticos de direita, que incentivaram um boicote ao produto. Eduardo Bolsonaro, ex-deputado e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi um dos mais vocalizados nesses protestos, indo a público para manifestar sua indignação ao jogar um par de Havaianas no lixo durante uma transmissão ao vivo. Ele disse que não começará o ano com o pé direito utilizando o produto da marca.
A reação das redes sociais e do mercado
Pelas redes sociais, Eduardo Bolsonaro expressou que ele caracterizava as Havaianas como um símbolo nacional, mas que agora se sentia enganado, principalmente por conta da frase de Fernanda no comercial. “Eu achava que isso aqui era um símbolo nacional. Já vi muito gringo com essa bandeirinha do Brasil no pé, só que eu me enganei,” declarou ele, enquanto também rotulava a atriz como alguém “declaradamente de esquerda”.
Cerca de meia hora após a explosão da controvérsia, as ações da Alpargatas (ALPA4) já apresentavam um recuo de 2,56%, sendo comercializadas a R$ 11,42, e mais cedo, em um momento de pânico no mercado financeiro, caíram até 3,41%. O impacto financeiro demonstra como as reações de figuras públicas e a polarização política podem refletir rapidamente no mercado, afetando empresas que já enfrentam desafios em tempos de incerteza. Além disso, publicações e análises nas redes sociais destacaram a relação entre a marca e a fragilidade de sua imagem pública diante de uma sociedade polarizada.
Ausência de resposta da empresa
O GLOBO buscou um posicionamento oficial da Alpargatas sobre a polêmica gerada, mas até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. Esse silêncio da marca pode agravar ainda mais a situação, já que a comunicação em momentos de crise é essencial para mitigar danos à reputação e à confiança do consumidor.
Além do ex-deputado, outros apoiadores do boicote, como o deputado federal Nikolas Ferreira, também se manifestaram nas redes sociais com trocadilhos em relação ao slogan da marca, sublinhando a reação negativa e a estratégia de marketing que pode ter dado errado.
A importância da marca Havaianas
As Havaianas sempre foram vista como um ícone nacional, representando a brasilidade e a cultura local. Desde sua criação, as sandálias se tornaram sinônimo de conforto e estilo no Brasil e no exterior. No entanto, a polarização política e a recente onda de boicotes coloriu a percepção que muitos brasileiros têm de um produto que antes era apreciado por seu apelo universal.
Este episódio pode ser um importante estudo de caso sobre como marcas devem se posicionar em um cenário de crescente polarização política, onde a arte publicitária pode facilmente se tornar um campo de batalha ideológico. Com isso, as marcas devem estar preparadas para navegação e adaptação em tempos de incerteza, mantendo a comunicação a mais transparente possível.
À medida que o Brasil e o mundo enfrentam um período de mudanças sociais e políticas, o futuro da Alpargatas e da marca Havaianas estará ligado não apenas aos seus produtos, mas também à maneira como elas gerem suas relações públicas e se adaptam a um ambiente socioeconômico cada vez mais complexo.



