No último domingo, 15 de dezembro de 2024, Santiago vibrou com a eleição de José Antonio Kast, um ultradireitista que não hesita em expressar sua admiração pelo ex-ditador Augusto Pinochet. A vitória nas urnas, com 58% dos votos, marca um novo capítulo na política chilena, onde a presença do passado autoritário parece ganhar força novamente.
Um presidente controverso
Kast, que em sua primeira campanha declarou: “Se estivesse vivo, Pinochet votaria em mim”, se tornou o primeiro presidente do Chile a defender abertamente o regime autoritário após o fim da ditadura em 1990. O novo líder promete uma agenda conservadora e ultrapassa as expectativas ao compartilhar os princípios de um passado que muitos consideram sombrio.
Raízes e ideologia
Filho de um alemão que fez parte do Partido Nazista e com um irmão que foi ministro durante a ditadura, Kast traz consigo um legado familiar que o acompanha. Em sua campanha, focou em propostas de privatização, cortes de gastos e flexibilização de leis trabalhistas, enquanto prometeu proibir a pílula do dia seguinte e restringir o aborto. Essa agenda reflete a tendência de muitos políticos conservadores de alinhar-se com as expectativas dos grupos religiosos e de mercado.
A influência do extremismo no Chile
O contexto político da eleição de Kast não é isolado. O Chile vive atualmente uma virada para a direita que ecoa em varios países da América do Sul. Durante sua campanha, Kast suavizou sua retórica sobre temas polêmicos, como o aborto e o casamento homoafetivo, optando por assuntos como segurança pública e imigração, inspirando-se em figuras como Donald Trump e Nayib Bukele, presidente de El Salvador. A estratégia de marketing parece ter funcionado, garantindo um apoio considerável nas urnas.
Conexões internacionais
A vitória de Kast gera inquietação no Brasil e nos demais países da região. O novo presidente já se posicionou contrariamente a políticas sociais avançadas e estabeleceu laços com a extrema direita brasileira, especialmente com a família Bolsonaro. Kast considera uma intervenção militar dos EUA na Venezuela para derrubar Nicolás Maduro, um ponto que gera tanto apoio quanto controvérsias no tapete político sul-americano.
O culto à personalidade
A reemergência do culto à Pinochet após a vitória de Kast representa um desafio para a memória coletiva chilena e para o processo de reconciliação pós-ditadura. Festejos nas ruas com retratos do ditador demonstraram que uma parte da população aceita e mesmo celebra o legado de um governo que foi marcado por violações de direitos humanos e repressão política. Isso levanta questões sobre a efetividade da democracia e a luta pelos direitos civis no país.
Desde o fim da ditadura, o Chile alternou entre governos de centro-esquerda e de centro-direita. A ascensão de Kast pode ser considerada um desnudar das preocupações de um segmento da população que, desapontada com as promessas não cumpridas, busca uma alternativa mais radical.
O futuro sob a liderança de Kast
Agora, com um governo que lembra tempos difíceis, a sociedade chilena enfrenta um desafio dual: combater as políticas que remetem a um passado autoritário e defender os direitos conquistados ao longo das últimas décadas. As propostas de Kast, ao mesmo tempo que geram apoio, também trazem à tona divisões profundas na sociedade e um debate sobre o futuro do Chile e seu compromisso com a democracia.
Enquanto Kast se prepara para assumir o cargo, o Brasil e outros países observam com atenção as decisões que o nova liderança tomará. A repercussão internacional da eleição vai além das fronteiras chilenas e pode redefinir alianças políticas e sociais na América do Sul, ampliando a influência da direita na região.
Assim, a pergunta que permanece é: até onde vão a nostalgia e a admiração por um passado autoritário na construção do futuro do Chile?



