No litoral de São Paulo, a Justiça de Santos tomou uma decisão que marcou um alívio para a família de Evandro Alves da Silva, um motoboy que foi baleado por policiais militares enquanto estava nu e usando o banheiro, durante a Operação Escudo. O inquérito policial que investigava Evandro por resistência e porte ilegal de arma foi arquivado, após o Ministério Público (MP-SP) considerar que não havia provas suficientes para fundamentar uma ação penal contra ele.
Operação Escudo e o caso de Evandro
A Operação Escudo, que teve início em julho de 2023, foi desencadeada após a morte do PM Patrick Bastos Reis e resultou na morte de 28 supostos suspeitos. Durante essa operação, foram registradas diversas denúncias de violações de direitos humanos, incluindo execuções e torturas indicadas por moradores da Baixada Santista, revelando um clima de medo e tensão na região.
O incidente que envolveu Evandro ocorreu no dia 30 de agosto de 2023. Policiais invadiram seu imóvel, localizado no Morro José Menino, e dispararam contra ele enquanto estava em uma situação vulnerável. Após ser atingido, Evandro conseguiu saltar pela janela e caiu de uma altura de sete metros, sendo levado às pressas para o hospital, onde ficou internado sob escolta policial por seis dias.
Revisão das alegações policiais
Inicialmente, os policiais alegaram que Evandro estava armado e apreenderam um revólver em cima de uma cama no local. No entanto, essa versão foi desmentida pelas imagens das câmeras corporais dos policiais que, segundo a análise feita pelo MP-SP, mostraram que não havia elementos que corroborassem a versão oficial dos policiais. O promotor Fabio Perez Fernandez destacou em sua análise que os policiais alegaram uma legítima defesa forjada, insinuando que a arma foi plantada no local.
Como resultado dessa análise, o MP apresentou uma denúncia por tentativa de homicídio contra os três policiais envolvidos nos tiros contra Evandro. Para a família, essa decisão representa não apenas um fechamento de um ciclo doloroso, mas também a esperança de que justiça seja feita contra as autoridades que ultrapassaram os limites da legalidade.
Arquivamento do inquérito e o caminho à frente
Em um documento datado de 16 de dezembro, a juíza da Vara do Júri da Comarca de Santos, Andrea Aparecida Nogueira Amaral Roman, determinou o arquivamento definitivo do inquérito, respaldando-se na manifestação do MP. A decisão trouxe um novo marco para a família de Evandro, que expressou alívio e gratidão pela vida, reiterando a importância de seguir adiante com dignidade e esperança.
Os familiares agradeceram o apoio do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública e destacaram que continuarão acompanhando o processo contra os PMs que dispararam contra Evandro. “Encerra um capítulo doloroso e marca o início de um novo recomeço”, afirmaram em nota. É importante notar que Evandro ainda lida com as consequências físicas deste ato violento, pois sofreu fraturas em oito costelas e perdeu o baço, tendo uma bala alojada em seu pulmão.
Reflexões e desafios sobre a atuação policial
Casos como o de Evandro levantam questões críticas sobre a atuação das forças de segurança no Brasil, especialmente em operações em áreas urbanas onde a disparidade social é notável. As ações da polícia devem ser constantemente revisadas e questionadas, principalmente considerando o aumento de relatos sobre violência e abuso de poder. O caso destaca a importância de políticas de segurança que respeitem os direitos humanos e busquem uma abordagem menos violenta, promovendo um diálogo mais construtivo entre comunidade e polícia.
A luta por justiça de Evandro Alves da Silva serve como um lembrete da necessidade de responsabilização em instituições que deveriam proteger a população, mas que em muitos casos, se tornam fontes de medo e trauma. O desfecho deste caso pode contribuir para uma discussão mais ampla sobre reforma policial e proteção dos direitos civis no Brasil.
O acompanhamento das etapas legais que se seguirão será crucial para a construção de um ambiente social mais seguro e mais justo, onde vidas possam ser respeitadas e protegidas. O caso de Evandro se torna um símbolo de resistência e um impulso para mudanças significativas no padrão de abordagens policiais.


