A Polícia Federal (PF) está investigando um áudio que sugere a atuação de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e da empresária Roberta Luchsinger para expandir sua rede de negócios em Brasília. O foco da investigação é um contrato sem licitação no Ministério da Saúde, que visava o fornecimento de medicamentos à base de cannabis para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Parcerias e suspeitas
Roberta Luchsinger, ex-candidata a deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), foi alvo de um mandado de busca e apreensão na última quinta-feira, em uma nova fase da operação que investiga supostas fraudes relacionadas a descontos em aposentadorias e pensões. Durante as investigações, a PF identificou que Luchsinger prestou consultoria ao Careca do INSS em troca de R$ 1,5 milhão, envolvendo cinco parcelas de R$ 300 mil. A negociação para o contrato no Ministério da Saúde não avançou, pois Antunes se tornou alvo da investigação e teve seus bens bloqueados.
Áudio comprometedores
Em um áudio de WhatsApp, Luchsinger conversou com Antunes sobre a possibilidade de dispensar a licitação para o contrato pretendido. “É contratação, sim. Ele sabe que é dispensa. É a nova lei das licitações, não sei se você já deu uma lida. Devido ao cenário de emergência, podemos criar um documento bem robusto pedindo a dispensa de licitação,” afirmou a empresária.
Investigação e desdobramentos
O ministro André Mendonça, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que fornecesse informações sobre processos relacionados à empresa de Antunes, que fornece canabidiol. Documentos obtidos através da Lei de Acesso à Informação mostram que Antunes manteve encontros com representantes do Ministério da Saúde entre 2024 e 2025, possivelmente na companhia de Luchsinger.
Reação das partes envolvidas
A defesa de Luchsinger alegou que as negociações nunca chegaram a avancar, enfatizando que “nenhum contrato público foi celebrado ou mesmo negociado”. Em nota, a defesa afirmou que os diálogos foram apenas tratativas iniciais e não se relacionavam com as investigações de fraudes no INSS. A defesa de Antunes, por sua vez, não se manifestou sobre o caso.
O Ministério da Saúde confirmou que nenhuma compra foi realizada e que seus membros se encontram regularmente com representantes de diversos setores da saúde, ressaltando que não houve desdobramentos após as reuniões. A Anvisa também se manifestou, afirmando que fornecerá informações quando notificada.
Conexões e influências políticas
No relatório que originou a operação, a PF afirma que Luchsinger se apresentava como pessoa com acesso a estruturas de poder que poderiam influenciar decisões políticas. “Os elementos colhidos durante as investigações indicam que a investigada mantinha uma sociedade de fato com Antônio Camilo Antunes em diversas áreas de atuação, especialmente na saúde pública,” declarou o ministro André Mendonça.
Nascida de uma família abastada e herdeira de um banqueiro suíço, Luchsinger já foi conhecida por seu apoio ao ex-presidente Lula, na época em que suas contas foram bloqueadas. Em relatos, a empresária é ligada ao filho de Lula, Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha. A relação entre eles tem sido um ponto de interesse em meio às investigações.
Acusações e controvérsias
Apolíticos se mostram preocupados com as alegações. O presidente da CPI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG), revelou que uma testemunha afirmou que Lulinha teria recebido R$ 25 milhões para facilitar licitações relacionadas à venda de canabidiol ao Ministério da Saúde. Contudo, a defesa de Antunes negou estar ciente de tal situação e, até o momento, não foram apresentadas provas que confirmem as alegações.
A CPI continua investigando, e novas informações estão sendo coletadas para entender a extensão do caso e o possível envolvimento de outras partes. “A testemunha nos disse que o total repassado seria de 25 milhões. Seriam concorrências fraudadas. É importante ouvi-lo para entender que esquema é esse e até para absolver se for o caso,” concluiu Viana, que busca aprofundar as investigações para garantir a transparência no uso de recursos públicos.
O desdobramento desse caso gera expectativa sobre a transparência nas relações entre o setor público e práticas empresariais, refletindo a necessidade de um claro distanciamento entre decisões de governo e influências externas que podem comprometer a ética nas contratações do serviço público no Brasil.



