O presidente francês Emmanuel Macron afirmou nesta sexta-feira que ainda é cedo para confirmar se o adiamento de um mês na decisão sobre o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul será suficiente para atender às condições da França, mas expressou esperança de que sim. A declaração ocorreu ao final de uma cúpula europeia em Bruxelas.
Negociações acirradas e condições para assinatura
Macron declarou que não sabe ao certo se o tempo extra será suficiente, mas destacou que espera que seja, pois isso indicaria avanços históricos no pacto. Segundo ele, a principal questão é a proteção dos agricultores europeus, especialmente dos franceses, que têm resistido ao acordo devido ao temor de concorrência desleal com produtos brasileiros.
“É cedo demais para dizer, não sei”, afirmou o presidente francês. “Eu espero que sim, porque isso significaria que teremos obtido avanços, alguns dos quais seriam avanços históricos.”
Pressões e obstáculos à assinatura
O adiamento da assinatura, inicialmente prevista para sábado, dia 20 de dezembro, foi anunciado na quinta-feira pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, devido à insuficiência de apoio entre os líderes europeus na reunião de cúpula em Bruxelas. A decisão frustrada também foi motivada pelo receio de países como Itália, que demonstraram reservas ao acordo.
A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni chegou a conversar por telefone com o presidente Lula e pediu mais tempo para finalizar os detalhes do pacto, reforçando a oposição de Roma ao acordo.
Impacto dos protestos agrícolas na Europa
Na semana passada, agricultores europeus protestaram violentamente contra o pacto na sede da União Europeia, em Bruxelas. Os manifestantes expressaram o medo da competição brasileira, temendo que nossos produtos possam inundar o mercado europeu, sobretudo na agricultura, setor que a França e outros países produtivos defendem com rigor.
Durante as manifestações, agricultores chegaram a confrontar policiais, lançando pedras e incendiando barricadas em meio a confrontos registrados na capital belga. Essas ações refletem a forte resistência local ao acordo, que ainda enfrenta obstáculos políticos e sociais na UE.
Perspectivas futuras
Apesar do adiamento, Macron e outros líderes europeus continuam negociando para garantir as garantias necessárias para que o acordo seja assinado, especialmente no que diz respeito à proteção do setor agrícola. O governo francês enfatiza que avanços nessa área podem transformar o pacto em um “novo” acordo Mercosul–UE, mais equilibrado e justo para todos os envolvidos.
O governo europeu também anunciou que, uma vez selado o pacto, uma investigação será iniciada caso produtos do Mercosul apresentem preços pelo menos 5% inferiores aos da UE, em volume de importações que ultrapassem 5%, uma redução dos limites inicialmente previstos em 10%. Além da França e Itália, outros países manifiestaram preocupação, o que comprometeu a assinatura no momento.
Especialistas avaliam que o resultado final depende de uma complexa negociação entre as várias nações, tentando equilibrar interesses econômicos e sociais. O episódio não prejudica apenas a relação UE-Mercosul, mas também mostra a sensibilidade do setor agrícola europeu às transformações na política comercial internacional.
Para mais detalhes sobre o desenvolvimento das negociações, acesse esta reportagem.


