O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não há intenção de privatizar os Correios, mesmo diante dos sinais de agravamento da crise financeira da estatal. Lula destacou a possibilidade de parcerias ou transformação da empresa em uma sociedade de economia mista, similar a Petrobras e Banco do Brasil, para viabilizar a recuperação.
Crise financeira e dificuldades do setor postal
Com um prejuízo de R$ 6 bilhões apenas no terceiro trimestre, os Correios enfrentam uma dificuldade crescente para equilibrar suas contas. A empresa pública busca reestruturar suas operações, cortando gastos e propondo parcerias para ampliar receitas, conforme informou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo Haddad, uma parceria com instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal, está sendo estudada, mas ainda sem decisão definitiva.
Opções estratégicas para a reestruturação
Transformar em sociedade de economia mista
Especialistas destacam que tornar os Correios uma empresa de economia mista envolveria abertura de capital na Bolsa, mantendo o controle do governo. Contudo, esse processo exige uma ampla reestruturação legal e operacional. Como explicou Cleveland Prates, ex-conselheiro do Cade, a legislação brasileira atribui ao setor público a exclusividade na prestação do serviço postal, tornando o procedimento mais complexo.
Parcerias com setor privado
Outra alternativa considerada pelo governo é estabelecer parcerias público-privadas (PPPs), permitindo a participação de empresas privadas na gestão de áreas específicas. Essa estratégia seria mais viável do que a privatização total, que, segundo Lula, não faz parte dos planos atuais — “Enquanto eu for presidente, não tem privatização”, reforçou o presidente.
Dificuldades e obstáculos na mudança de modelo
Para transformar os Correios em uma empresa de economia mista, seria necessário um longo percurso legal e uma análise detalhada do potencial de retorno financeiro. Além disso, a opinião de especialistas aponta que a soletração de um modelo lucrativo requer mudanças profundas na gestão e na estratégia do setor, o que dificilmente se concretizaria no curto prazo.
O ministro Haddad afirmou que há estudos em andamento, mas que nada foi decidido até o momento, indicando que o foco permanece na recuperação de uma estatal que trabalha sob forte pressão de prejuízos e dependência do Tesouro Nacional.
Empréstimos, dívidas e a situação atual
Os Correios firmaram um empréstimo bilionário com bancos públicos e privados, incluindo Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander, com prazo de pagamento de 15 anos e juros de 115% do CDI. O objetivo é salvar a estatal, cuja previsão é que o prejuízo total chegue a R$ 23 bilhões em 2026.
Apesar do aval do Tesouro para o financiamento, os recursos terão limites de uso, destinados a despesas já previstas na previsão de déficit de R$ 5,8 bilhões para o próximo ano. As ações de reestruturação incluem cortas de gastos, despedimento de 15 mil funcionários até 2027 e parcerias com o setor privado, além de contratação de consultorias especializadas.
O papel do Estado e o futuro dos Correios
Luiz Lula reforçou que não abrirá mão do controle da estatal, enfatizando a manutenção do papel do Correios como serviço de interesse público e de política de governo. “A estratégia é desligar 15 mil funcionários, por meio de PDV, e fechar unidades, além de buscar parcerias para aumentar receitas”, explicou.
Por outro lado, a disputa por um modelo que permita à companhia gerar lucro de forma sustentável ainda está em debate. O governo busca equilibrar o interesse público e a necessidade de recuperação econômica, sem, contudo, abrir mão do controle da empresa.
Para especialistas, a implementação de uma sociedade de economia mista dependerá de mudanças legislativas e de um longo processo de negociação. Assim, o futuro dos Correios permanece incerto, com o governo priorizando reestruturações internas e parcerias estratégicas.
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