A recente troca no comando do Ministério do Turismo, que envolveu diretamente o Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Hugo Motta, e o comando do União Brasil, deixou à mostra o racha interno existente no partido. A indicação de Gustavo Feliciano para o cargo gerou uma onda de queixas entre deputados que alegam não ter sido consultados ou informados previamente sobre as tratativas. Este episódio não apenas destaca a divisão interna, mas também levanta questionamentos sobre a direção que o partido está tomando em um momento crucial, próximo ao ano eleitoral.
A insatisfação da bancada do União Brasil
Nos bastidores, a situação está gerando desconforto entre os parlamentares. Eles classificam as negociações como realizadas “por fora da bancada”, o que acabou expor o partido em um período em que ainda tenta firmar um posicionamento claro a nível nacional. A insatisfação é ainda mais pronunciada quando se considera o histórico conturbado da legenda em relação ao governo. Recentemente, o União Brasil havia anunciado sua saída da base de apoio do governo e solicitado que seus ministros entregassem os cargos, o que teve um impacto direto na gestão do então ministro de Turismo, Celso Sabino.
Embora tenha havido uma orientação partidária para deixar o governo, Sabino permaneceu, o que resultou em sua expulsão do partido. Esta situação é relembrada por deputados que a veem como um fator de contradição e desgaste interno, especialmente à luz do recente episódio envolvendo a nomeação de Feliciano.
Divisão entre as alas do partido
O mal-estar se intensifica entre os integrantes da ala de oposição do União Brasil, que advogam por uma postura de independência em relação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Para esse grupo, a escolha de Feliciano simboliza um retrocesso político que não faz sentido em meio a um ano eleitoral. Deputados que falaram com o GLOBO, sob a condição de anonimato, expressaram que o partido optou por um caminho sem o devido debate interno, um movimento que surpreendeu e descontentou muitos.
A leitura comum entre os parlamentares é de que, próximo ao crucial período eleitoral, o União Brasil não deveria se envolver em negociações com o Planalto sem antes discutir com a bancada. Reconhece-se internamente que a definição formal da direção da sigla foi adiada para março, mas muitos já alertam que, até lá, os movimentos da legenda podem continuar erráticos.
Críticas à liderança do partido
O foco das queixas recai sobre o líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes. A participação dele em reuniões com o governo e a cúpula do partido gerou críticas sobre a exposição desnecessária que isso trouxe à bancada, a qual o apoiou em sua recondução ao cargo. Esse episódio reabriu feridas do passado, lembrando que, meses antes, o vai e vem de Pedro Lucas, que aceitou um convite para o governo e depois decidiu recuar, já havia causado ruídos internos.
Agora, há uma percepção de que as decisões estratégicas estão sendo concentradas em um grupo restrito, e essa prática gera cada vez mais descontentamento dentro da bancada. A visão do governo é de que a troca no Ministério do Turismo foi um movimento pragmático, pensando em atender as reivindicações de Hugo Motta, que vinha se queixando da falta de espaço no primeiro escalão, ao contrário de seus antecessores.
Movimentação política e o futuro da sigla
A mudança foi impulsionada por Motta, que pressiona o Planalto por uma solução há tempo. Recentemente, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, se reuniu com o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, para obter sua aprovação formal à nomeação de Feliciano. Motta estava presente, assim como o presidente do PT, Edinho Silva, e outras lideranças do União, onde foram discutidos temas como governabilidade, orçamento para 2026, e a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública.
As tensões no União Brasil estão longe de serem resolvidas, e o caminho a seguir permanece incerto, enquanto o partido vive um momento delicado e divisivo. As próximas decisões podem ser fundamentais não apenas para o futuro da legenda, mas também para a dinâmica política nacional, especialmente com as eleições se aproximando.



