O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (22) que tem sido tratado de forma desigual em relação aos seus antecessores na área econômica, incluindo governos do campo político adversário e gestores anteriores, como Henrique Meirelles. Em entrevista de fim de ano, Haddad criticou a maneira como sua gestão tem sido percebida e cobrada pela imprensa e pelo mercado.
Críticas ao tratamento na área fiscal
Em tom irônico, Haddad disse que o governo anterior, sem citar nomes, e a gestão de Henrique Meirelles durante o governo Temer não receberam críticas semelhantes às que ele tem enfrentado atualmente. “Ninguém chama o Meirelles de irresponsável por entregar resultados fiscais piores do que os meus”, declarou, ao justificar que a comparação com períodos anteriores revela uma disparidade na cobrança.
Ele destacou que, no governo Temer, a previsão de déficit de R$ 139 bilhões em 2018, corrigida pela inflação, equivale ao atual de R$ 180 bilhões para 2023, mas ninguém considerou isso uma irresponsabilidade, em sua visão.
Contexto da política fiscal e percepção pública
Déficit e responsabilidade fiscal
Haddad comentou também sobre o déficit orçamentário de cerca de R$ 180 bilhões projetado para 2023, incluindo itens como precatórios e reajustes do Bolsa Família, que, na sua avaliação, deveriam ser considerados independentemente do resultado eleitoral. Segundo ele, esses números refletem uma trajetória fiscal que pressupõe a responsabilidade de governos passados e atuais.
“A PLOA de 2018 tinha um déficit de R$ 139 bilhões, corrigido pela inflação, isso equivale aos R$ 180 bilhões atuais. Por que então não se fala do Meirelles como irresponsável?”, questionou, sugerindo uma percepção de injustiça na avaliação de sua gestão.
Reflexões sobre narrativas e percepção de injustiça
Haddad afirmou que busca entender as narrativas que o cercam e reconheceu a existência de um viés contra ele e o governo Lula. “Tenho que aprender a enxergar com o outro olho, porque cada pessoa vê a realidade como quer”, relatou, revelando uma tentativa de compreender os diferentes pontos de vista.
Sobre o tratamento na imprensa
Questionado sobre eventuais disparidades na abordagem jornalística, Haddad brincou ao comparar o uso de “dicionários”: “Será que na redação há um dicionário para tratar o Fernando Haddad e outro para os ministros da direita? Precisa ter um só, para todos”, afirmou, provocando uma reflexão sobre os critérios utilizados na cobertura.
Contexto fiscal e críticos de seu governo
O ministro também comentou que parte das percepções acerca de sua gestão se deve ao viés expansionista adotado pelo governo, que estimulou gastos públicos e de estatais para tentar aquecer a economia, sobretudo em 2022. Ele reconhece que, embora o aumento de despesas não tenha sido tão expressivo quanto em outros períodos do passado, essas ações contribuíram para o aumento do endividamento.
Além disso, Haddad destacou que, apesar das dificuldades, conseguiu melhorar a relação entre receitas e despesas nos últimos anos, embora o ritmo de contenção de gastos tenha sido insuficiente para evitar a elevação da dívida pública.
Perspectivas para o futuro
Na entrevista, o ministro sinalizou que sua gestão está próxima do fim, com saída prevista para fevereiro, e reforçou a necessidade de um debate mais isonômico com relação às responsabilidades fiscais do governo, independentemente do espectro político.
Apesar das críticas, Haddad reconhece que o país precisa de melhorias na gestão fiscal e que a percepção pública muitas vezes não reflete a complexidade das decisões tomadas.


