Santa Fé do Sul, uma cidade tranquila localizada no noroeste paulista, abriga uma importante iniciativa de preservação da fauna local. Com cerca de 36 mil habitantes, o município se destaca não só por sua simplicidade interiorana, mas também pela atuação de cidadãos engajados em causas ambientais. Um exemplo é o observador de aves Percival Gonzales, que decidiu proteger as corujas-buraqueiras (Athene cunicularia) que encontraram abrigo em sua comunidade.
O ninho no coração da cidade
Percival Gonzales, morador da Avenida Navarro de Andrade, se deparou com uma família de corujas-buraqueiras em seu dia a dia. Observando as aves em seu ambiente natural, ele notou a existência de um ninho e decidiu que era sua responsabilidade ajudar a preservar a espécie. “Como essa praça fica perto do meu trabalho, eu fiquei sempre observando elas. Aí me deparei com o ninho delas lá e fiquei monitorando”, relata Gonzales. Em razão disso, ele optou por instalar uma placa informativa ao lado da toca, alertando a comunidade sobre a importância de cuidar desses animais.
A instalação da placa foi viabilizada com a ajuda de amigos, que contribuíram com recursos para a aquisição do material. “Depois que eu coloquei a placa, tive a iniciativa de colocar essa placa, de preservar, todos colaboram com a preservação. Pessoal tira foto, faz vídeo, virou um ponto turístico ali”, diz Percival, ressaltando a interação positiva da população com o projeto.
Coruja-buraqueira: conhecendo a espécie
A coruja-buraqueira é uma ave de pequeno porte, com machos pesando entre 110 e 285 gramas e fêmeas entre 150 e 265 gramas. Caracteriza-se por sua cabeça redonda e olhos amarelos, que se acomodam um ao lado do outro, em um mesmo plano. Ao contrário da maioria das corujas, os machos são ligeiramente maiores que as fêmeas, que geralmente têm coloração mais escura na face.
Essa espécie é encontrada em quase todo o Brasil, exceto na bacia amazônica. Elas fazem seus ninhos em buracos que cavam no solo, em média de 1,5 a 3 metros de profundidade. A fêmea incubará de 6 a 11 ovos, e será o macho quem trará alimento e protegerá os filhotes durante a fase de incubação.
Comportamento urbano
Percival também observa que as corujas-buraqueiras se adaptaram ao ambiente urbano. “Elas estão acostumadas com todo mundo, todo mundo que passa ali elas nem mais voam”, diz. O observador enfatiza que a convivência pacífica entre as aves e os habitantes da cidade é um reflexo da conscientização ambiental que está se formando em Santa Fé do Sul.
Durante os períodos de calor intenso, principalmente na primavera e no verão, é comum ver as corujas buscando abrigo em locais próximos ao ninho. Às vezes, elas preferem se acomodar em locais como a bilheteria de um trenzinho que fica nas proximidades, ao invés de permanecer em cima da placa informativa.
Impacto na comunidade
A iniciativa de Percival não apenas beneficia as corujas-buraqueiras, mas também serve como um exemplo inspirador para outros moradores sobre a importância da conservação ambiental. Além de cuidar do ninho das corujas, ele também mantém um comedouro para araras-canindé (Ara ararauna) em sua cidade, mais uma prova de seu compromisso com a preservação da fauna local.
Ao criar este espaço e incluir placas que promovem a conscientização, Percival Gonzales conseguiu despertar o interesse da população por espécies que, embora nativas, muitas vezes não são valorizadas ou até mesmo ignoradas no cotidiano. A transformação de um simples ninho em um ponto turístico e de aprendizado demonstra o impacto positivo que ações comunitárias podem ter na preservação do meio ambiente.
Em épocas de desafios relacionados à conservação de espécies, iniciativas como a de Percival se destacam ao mostrar como pequenas atitudes podem criar um grande impacto. A interação com a fauna não é apenas uma responsabilidade, mas uma oportunidade de aprendizado e prazer na convivência com a natureza.


