Os Correios devem permanecer sob controle estatal, mas buscarão parcerias com empresas públicas e privadas para aumentar suas receitas, anunciou nesta quinta-feira (18) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A estratégia visa fortalecer a capilaridade da empresa, presente em praticamente todos os municípios brasileiros, e explorar novas oportunidades de negócios.
Parcerias e possibilidades de negócios
Segundo Haddad, há interesse de entidades como a Caixa Econômica Federal em estabelecer parcerias, especialmente na oferta de serviços financeiros, incluindo seguros e previdência, nas agências dos Correios. “A capilaridade dos Correios é um ativo importante, e há possibilidades de ampliar a utilização dessa rede”, afirmou o ministro.
O ministro também ressaltou que qualquer empréstimo à estatal só ocorrerá com aval do Tesouro Nacional e sob condições consideradas adequadas pelo governo. Uma proposta de empréstimo de R$ 20 bilhões com juros de 136% do CDI foi descartada, pois o Tesouro não garantirá operações com juros superiores a 120% do CDI.
Crise financeira e perspectivas de recuperação
Nos últimos anos, a situação financeira dos Correios se agravou, com prejuízo que passou de R$ 633 milhões em 2023 para R$ 2,6 bilhões em 2024. Entre janeiro e setembro de 2025, o déficit acumulado atingiu R$ 6 bilhões, e a previsão é de que o resultado negativo encerre o exercício em até R$ 10 bilhões. Os Correios chegaram a solicitar um empréstimo de até R$ 20 bilhões, mas a operação ainda não foi aprovada.
Haddad explicou que a atual crise só foi esclarecida após a troca da diretoria, ocorrida em setembro. “Estamos elaborando uma linha do tempo para entender as causas da crise e desenvolver um plano de recuperação robusto”, afirmou. A ideia é que os recursos destinados à estatal não sirvam para adiar o problema, mas para promover uma reorganização estrutural.
Desafios do serviço postal e propostas futuras
Haddad destacou que o serviço postal, por sua universalidade, não se sustenta financeiramente sem subsídios, mesmo em países considerados de economia liberal, como os Estados Unidos e nações europeias. Empresas privadas, por sua vez, concentram-se nos trechos mais rentáveis, deixando o serviço público garantir cobertura nacional.
Foi defendido o fortalecimento de outras atividades pelos Correios, além do envio de correspondências, para garantir sustentabilidade. “Depois da reestruturação, haverá diversas oportunidades de atuação”, afirmou.
Ligações com a privatização e a posição de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que os Correios não serão privatizados, embora possam firmar parcerias e adotar um modelo de economia mista, semelhante ao da Petrobras, com o controle acionário mantido pelo Estado. “Enquanto eu for presidente, privatização não vai acontecer. Pode haver parceria ou economia mista, mas privatização, não”, declarou Lula.
O presidente atribuiu parte dos problemas atuais a uma “gestão equivocada” e afirmou que o governo já realizou mudanças na direção da estatal. Recentemente, sessões de discussão sobre um plano de socorro à empresa foram intensificadas, incluindo possibilidades de empréstimos com garantias do Tesouro ou aportes diretos de recursos.
Confusão contábil e outros casos
Haddad também comentou sobre problemas contábeis de outras estatais, destacando que aportes do governo para investimentos às vezes são registrados como despesas, o que pode gerar confusão. Como exemplo, citou o sistema do Serpro, necessário para a reforma tributária, cujo investimento foi registrado como despesa.
Ele afirmou que no caso da Eletronuclear, a venda de participação acionária à Eletrobras ocorreu após uma complexa disputa judicial e mudanças na privatização da estatal. “Nas próximas semanas, apresentaremos uma solução estrutural para a Eletronuclear ao presidente Lula”, concluiu.
Mais detalhes sobre as discussões e planos de reestruturação estão sendo elaborados pelo governo, que busca alternativas para recuperar a saúde financeira dos Correios e manter sua importância estratégica para o país.


