No maior centro de detenção imigratória do país, relatos de abuso se acumulam, destacando um grave problema humanitário na base militar de Fort Bliss, em El Paso, Texas. Entre os casos mais chocantes está o de Samuel, um adolescente detido que, segundo suas próprias palavras, foi brutalmente agredido por oficiais a ponto de ter que receber atendimento hospitalar. Samuel descreveu ter perdido um dente e relatou agressões que incluíram dor física extrema e violação da sua integridade. Infelizmente, sua história não é um caso isolado; dezenas de prisioneiros na instalação relatam experiências semelhantes, cuja gravidade merece atenção internacional.
Uma crise humanitária se desenrolando
Desde a abertura de Fort Bliss, há três meses, as violações de direitos humanos e as condições sub-humanas têm sido bem documentadas. A ACLU e outras organizações de direitos humanos enviaram uma carta à Agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), pondo em evidência os relatos de agressões físicas e abuso sexual por parte dos agentes. Essas alegações são baseadas em entrevistas com mais de 45 indivíduos detidos e incluem 16 declarações assinadas que retratam a realidade alarmante dentro do centro.
Como se isso não fosse suficiente, outro imigrante, Francisco Gaspar Andres, faleceu devido a complicações de saúde que surgiram em decorrência da falta de atendimento médico adequado, em 3 de dezembro de 2025. O fato de uma vida ser perdida por negligência médica evidencia a gravidade da situação em Fort Bliss, que abriga cerca de 3.000 detidos em tendas em condições extremas de calor.
Condições alarmantes e violações sistemáticas
As primeiras semanas de funcionamento de Fort Bliss foram marcadas por uma série de violações. Reportagens recentes indicam 60 infrações a normas federais de detenção nos primeiros 50 dias da instalação. Os relatos de detidos contradizem as promessas do governo, revelando uma gestão negligente, com ofertas de alimentação inadequadas, higiene precária e falta de cuidados médicos.
Muitos detidos relatam viver em uma realidade em que a escassez de alimentos é crônica, obrigando-os a racionar ou, em alguns casos, a passar fome. A comida, quando disponível, frequentemente está estragada ou parcialmente congelada, causando surtos de vômito e diarreia. Além disso, os suprimentos de higiene básica são escassos, e as condições sanitárias são deploráveis, com tendas e banheiros inundados de água suja e dejetos.
Agravação do sofrimento e abuso de autoridade
A violência também é uma constante na vida dos detidos. Muitos cidadãos relatam terem sido agredidos de maneira brutal, incluindo abusos sexuais, e táticas de coerção que incluem espancamentos e a pressão para aceitarem deportação forçada. É um padrão de brutalidade que une diversos relatos, tornando evidente a necessidade de responsabilização por parte das autoridades locais.
Direitos básicos em risco
Outra questão crítica em Fort Bliss é a limitação do acesso à defesa legal. Desde sua abertura, a instalação utilizava tablets para comunicação entre devidos e advogados, sem oferecer privacidade. Embora tenham atualizado algumas regras, a capacidade de atendimento é extremamente restrita, permitindo que apenas dez detidos sejam atendidos por dia. Muitos ainda carecem de números para contatar advogados, e a biblioteca jurídica está vazia.
Essas violações, junto com as condições desumanas como estruturas em colapso, água vazando e barracas imundas, desenham um quadro preocupante sobre a gestão da detenção imigratória. A experiência resultante em Fort Bliss é uma expressão de um sistema corrosivo que não apenas ignora direitos humanos, mas também promove um ambiente de medo incessante.
Um alerta para o futuro
Observando a rápida expansão do sistema de detenção nos EUA, é possível afirmar que Fort Bliss não é uma exceção, mas um sintoma de uma estratégia mais ampla que ignora os direitos humanos e a dignidade das pessoas. Com novos centros de detenção programados para abrir em todo o país, a ACLU aponta que a situação pode piorar ainda mais se não houver uma intervenção efetiva por parte de legisladores e do público em geral. O que está acontecendo em Fort Bliss deve servir como um alerta sobre os perigos da detenção militarizada e da falta de supervisão.
Se as políticas atuais não forem revistas e se ações não forem tomadas rapidamente, Fort Bliss poderá se tornar um modelo, não de reforma, mas de opressão sistemática na detenção. A responsabilidade deve recair sobre aqueles que implementam essas medidas e sobre o público que deve exigir mudanças e justiça para os detidos.
Esta realidade alarmante não pode ser ignorada, pois o que está em jogo são vidas humanas e a dignidade de milhares de pessoas em busca de segurança e um futuro melhor.


