A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comunicou nesta quinta-feira (18) aos líderes da União Europeia que a assinatura do acordo de livre comércio com o Mercosul será adiada para janeiro de 2025. A decisão ocorreu durante uma reunião de cúpula em Bruxelas e foi confirmada por fontes diplomáticas à AFP. A expectativa era de que o pacto fosse selado nesta semana, consolidando a maior zona de livre comércio do mundo, que beneficiaria exportações de veículos, maquinário e alimentos.
Resistência na Europa provoca adiamento da assinatura
O atraso foi motivado, principalmente, pelo aumento das manifestações de agricultores europeus contra o acordo, considerados por eles como uma ameaça à produção local. Segundo relatos, milhares de agricultores tiveram protestos violentos nas proximidades das instituições europeias, com pneus incendiados, arremesso de alimentos e uso de bombas de gás lacrimogêneo pela polícia. O movimento foi liderado por representantes da Copa-Cogeca, maior organização agrícola do continente, com cerca de 10 mil participantes.
Além dos protestos, a resistência de países como França, Itália, Polônia e Hungria também pressionou a assinatura. A Itália, especificamente, se juntou à França na exigência de maior proteção para o setor agrícola, buscando ampliar o prazo de negociação. “Será muito frustrante se a Europa não alcançar um acordo com o Mercosul”, afirmou Pedro Sánchez, presidente do governo espanhol, ao chegar ao Conselho Europeu.
Diálogo e obstáculos internos na União Europeia
Antes do adiamento, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha planejado assinar o tratado na próxima sábado, durante a cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, no Paraná, mas precisaria do aval de uma maioria qualificada dos Estados-membros, reunidos em Bruxelas. A resistência de países como França, Itália, Polônia e Hungria reforça o temor de que o pacto, que abriria mercado para carne, arroz, soja e mel sul-americanos, seja aprovado na forma atual.
De acordo com fontes europeias, o setor agrícola europeu teme que o acordo facilite a entrada de produtos mais baratos, produzidos com normas ambientais e sociais menos rígidas do que as exigidas na UE, o que poderia gerar competição desleal. “Os nossos antagonistas consideram que as contas não fecham e que o acordo, nessa configuração, não pode ser assinado”, declarou Emmanuel Macron, presidente da França.
Implicações para o comércio e futuras negociações
Se confirmado, o adiamento interrompe uma negociação que dura mais de 25 anos e que poderia impulsionar as exportações europeias de veículos e maquinaria, além de ampliar o acesso a produtos sul-americanos. Por outro lado, oferece um breve momento de alívio para os países do bloco sul-americano, que aguardam o desfecho da discussão. Lula, presidente do Brasil, já sinalizou que vai transmitir o pedido de mais tempo aos aliados latino-americanos para decidir os próximos passos.
Ao telefone, Lula conversou com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, que garantiu que, caso o adiamento seja necessário, a Itália apoiará o acordo ao final do período de análises. “Ela pediu paciência de uma semana ou dez dias”, revelou o presidente brasileiro. O desfecho depende agora do alinhamento dos 27 Estados-membros da UE, que discutem na cúpula em Bruxelas as condições de apoio ao pacto.
Segundo analistas, o atraso representa um revés para a Comissão Europeia e para países como Alemanha e Espanha, que defendem a assinatura do tratado para reforçar suas exportações frente à concorrência chinesa e às tarifas americanas. Já os opositores, liderados por França e alguns países do leste europeu, criticam a falta de garantias ambientais e sociais no texto.
Enquanto isso, o impacto político e social se manifesta nas ruas e nas instituições, refletindo a complexidade de um acordo que envolve interesses econômicos, ambientais e políticos de várias regiões.

