Um despacho revelado nas últimas semanas pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR), datado de julho de 2005, está no centro de uma nova polêmica. O documento, encontrado durante uma operação da Polícia Federal (PF) na 13ª Vara Federal de Curitiba, sugere que Moro mandou grampear irregularmente autoridades que possuem foro privilegiado. As acusações estão gerando discussões intensas sobre ética e legalidade no âmbito da justiça brasileira.
Os detalhes do despacho e as acusações
O despacho foi publicado na coluna da jornalista Daniela Lima do Uol e menciona a exigência de Moro para que um colaborador, o ex-deputado estadual Tony Garcia, realizasse novas gravações do então presidente do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), Heinz Herwig. Na ocasião, Moro não ficou satisfeito com gravações anteriores, as quais considerou insatisfatórias para os fins pretendidos.

Além do despacho, a PF encontrou uma gravação de 40 minutos em que Herwig foi monitorado. Este material, segundo informações, seria o comprovante de um conteúdo que foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Garcia, que também se autodenomina um “agente infiltrado” do ex-juiz. Em 2004, Garcia havia assinado um acordo de colaboração com o Ministério Público Federal, documento que foi subscrito por Moro. O tema levanta questões sobre a legalidade das ações do ex-juiz e suas práticas durante o tempo em que esteve à frente da Vara Federal.
A operação da PF e as repercussões
A operação realizada pela PF no dia 3 de dezembro foi autorizada pelo ministro Dias Toffoli, do STF, e visou à coleta de documentos que seriam relevantes para investigações que antecedem a Lava Jato. Entre os dados buscados, estavam informações relacionadas ao envolvimento de Tony Garcia como informante nas investigações conduzidas pela Vara que era comandada por Moro na época.
Com essa ação, o STF finalmente teve acesso a um conjunto de documentos que deveriam ter sido encaminhados anteriormente para análise e que foram solicitados reiteradamente. A decisão de Toffoli se baseou em indícios de desobediência a ordens judiciais, o que levanta preocupações sobre a condução dos casos que envolvem o ex-juiz.
Denúncias e novas descobertas sobre escutas
O material apreendido pela PF também inclui relatórios de inteligência que expõem transcrições de escutas realizadas sobre desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e outras autoridades. Isso alimenta as reivindicações de vários delatores, que afirmam que Moro utilizava esses registros para monitorar indivíduos fora de sua jurisdição legal. As escutas em questão foram autorizadas quando Garcia ainda colaborava com a Justiça, senão ocorrerem irregularidades.
A gravação de Herwig aconteceu em fevereiro de 2005, e em julho do mesmo ano, Moro pediu uma nova gravação. Essa ação faz parte de um padrão observado nas atividades de Moro que indicam um uso questionável de escutas telefônicas em prol de investigações.
Respostas e defesas de Sergio Moro
Na manhã desta quarta-feira, Moro utilizou suas redes sociais para se defender. Ele classificou as acusações como “factóides ressuscitados” que surgem em um momento em que ele afirma que outras investigações estão sendo realizadas, especificamente sobre o filho do ex-presidente Lula, Lulinha, relacionado a um escândalo envolvendo o roubo do INSS. Moro argumenta que as gravações ocorreram em um contexto onde um criminoso colaborador estava gravando seus interlocutores, sem que fosse necessária autorização judicial, segundo o entendimento do STF da época.
“Foi a única autoridade de foro então gravada e o áudio não foi utilizado para nada. Essa colaboração finalizou em 2005, sem qualquer relação com a Lava Jato”, concluiu Moro.
Essas novas descobertas sobre a chamada “Operação Lava Jato” e as atividades de Moro na época suscitam um debate crítico sobre a ética da prática judiciária e as implicações legais desses atos. A população brasileira continua atenta às repercussões e respostas que podem surgir. A transparência e a conduta ética dos envolvidos em processos judiciais são cruciais para a manutenção da confiança pública é um tema que se torna cada vez mais relevante à medida que novas informações vêm à tona.


