Na cúpula da União Europeia com os países do Balkãs Ocidentais nesta quarta-feira (17), destacam-se as questões religiosas, essenciais para a estabilidade e o avanço do processo de adesão à UE. O encontro, realizado em Bruxelas, reúne representantes do bloco e seis nações: Albânia, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte e Sérvia.
Relevância das religiões na região
As igrejas ortodoxa, muçulmana e católica representam a identidade cultural e política no Balkãs, regiões marcadas por tensões étnicas e históricas. Segundo análise de especialistas, esses grupos religiosos desempenham papel fundamental na construção das nações e na influência sobre a estabilidade regional.
Atualmente, a União Europeia é considerada principal parceiro comercial, investidor e doador na área. Apesar disso, a complexidade do mapa religioso e as divergências étnico-religiosas, como maiorias ortodoxas, populações muçulmanas e minorias católicas, influenciam diretamente os desafios políticos e sociais.
Perspectivas e desafios religiosos
O embaixador da Sérvia junto à Santa Sé, Sima Avramović, destacou a esperança de continuidade na trajetória de ampliação europeia. Entretanto, há preocupações com a influência russa, especialmente na Sérvia, e a necessidade de estabilização política, conforme apontado por analistas geopolíticos.
O “Religious Freedom in the World Report 2025” aponta avanços na liberdade religiosa na Albânia e Macedônia do Norte, mas ressalta fragilidades em Kosovo, onde a proteção à liberdade religiosa ainda é difícil, além de tensões étnico-religiosas persistentes em Montenegro.
Relações entre as igrejas
As igrejas ortodoxas têm papel crucial na conformação das identidades nacionais, reforçando a autonomia dos Estados. Contudo, enfrentam divergências recentes devido a temas como a crise dos refugiados, vacinação anti-Covid e a guerra na Ucrânia. A influência do “Mundo Russo” e conceitos de “guerra sagrada” provocam tensões internas.
O bispo do Arquidiocese de Ohrid, na Macedônia do Norte, afirmou que as igrejas “mantêm relações de irmandade”, buscando “sobrepor confiança, solidariedade e unidade na fé”, aproximando-se por meio de visitas, celebrações conjuntas e cooperação na educação.
As relações entre católicos e ortodoxos também apresentam nuances: há esforços de cooperação, como a histórica reunião anual em Roma em homenagem aos santos Cirilo e Métodio e visitas de líderes religiosos, embora muitas denominações mantenham uma postura mais diplomática em relação ao Vaticano, conforme explica Daniela Kalkandjieva, especialista em Igreja Ortodoxa.
Visão da União Europeia
Para as igrejas ortodoxas, a UE é uma “força importante na vida dos fiéis”, com algumas representações em Bruxelas. Contudo, o diálogo oficial ainda é pouco conhecido na maioria dos países. O bispo Kliment, da Macedônia do Norte, pontuou a necessidade de a União ser uma “plataforma de estabilidade política e econômica, respeitando as liberdades religiosas e o Estado de Direito”.
Cenários polêmicos como a postagem do eurodeputado croata Tonino Piculа, que comemorou uma operação militar de 1995 com uma arma, geraram controvérsia na Europa, evidenciando as tensões políticas e étnicas que permeiam a região.
Especialistas e líderes religiosos continuam vendo o papel das igrejas como fundamental na relação entre os países balcânicos e o processo de integração europeia, que depende também de esforços de estabilidade e fortalecimento do diálogo inter-religioso.


