Em um cenário de constantes alterações nos custos operacionais, a Prefeitura de São Paulo se prepara para uma decisão crucial a respeito do aumento das tarifas de ônibus para 2026. O prefeito Ricardo Nunes (MDB enfrenta um dilema econômico significativo: os custos de operação dos ônibus aumentaram mais do que a arrecadação, obrigando a gestão municipal a investir mais recursos no sistema de transporte.
Aumento dos custos e subsídios alarmantes
Dados da SPTrans revelam que, entre janeiro e outubro deste ano, o custo total do sistema de transporte aumentou em R$ 492,7 milhões em comparação com o mesmo período de 2024. Em contrapartida, a arrecadação tarifária cresceu apenas R$ 410,3 milhões, resultando em um repasse recorde de R$ 6 bilhões em subsídios às empresas de ônibus até outubro de 2025, um valor que não inclui ainda os meses de novembro e dezembro.
Esse montante de subsídios é o maior já registrado na história da cidade e reflete um aumento de R$ 106 milhões em relação ao ano passado. Além disso, o custo total do sistema alcançou R$ 10,34 bilhões, enquanto a arrecadação tarifária totalizou apenas R$ 4,3 bilhões – uma diferença alarmante que destaca a necessidade de uma revisão na gestão do transporte público.
Impactos da inflação e custos operacionais
Em termos percentuais, os custos de operação do sistema de transporte público em São Paulo cresceram cerca de 5% nos primeiros dez meses de 2025, índice superior à inflação acumulada de 3,92% no mesmo período. O aumento dos custos operacionais foi ainda maior, com a SPTrans reportando uma variação de 5,96%, segundo informações fornecidas pela Secretaria de Mobilidade Urbana e Transportes (SMT).
De acordo com a SMT, essa variação está dentro dos limites estabelecidos no contrato de concessão, não representando um descontrole financeiro. A secretaria argumenta que fatores externos, como a inflação e mudanças nas alíquotas tributárias federais, impactam diretamente os custos. Sem os subsídios, a tarifa de ônibus poderia chegar a R$ 11,78, em vez dos R$ 5,00 atuais.
Revisão de contratos e crescente pressão econômica
Adicionalmente, o Tribunal de Contas do Município (TCM) autorizou essa semana a revisão dos contratos das empresas de ônibus com a prefeitura. Esta revisão, que deveria ter ocorrido em maio, teve um atraso que gerou prejuízos estimados em mais de R$ 1 bilhão para as empresas. A falta de pagamento adicional foi apontada como uma das razões para a recente paralisação dos motoristas, ocorrida no início de dezembro.
Um estudo encomendado pela SMT à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que deveria haver um reequilíbrio financeiro nos contratos, uma vez que a Taxa Interna de Retorno (TIR) deveria ser de 9,88%, em vez de 9,1%, o índice atualmente praticado. Essa revisão quadrienal é crucial, pois garante a sustentabilidade econômica do sistema de transporte.
Decisão sobre tarifas deve ocorrer até dezembro
No decorrer de 2025, a tarifa dos ônibus foi aumentada em R$ 0,60, passando de R$ 4,40 para R$ 5,00. O prefeito Nunes afirmou que a decisão sobre o valor a ser praticado em 2026 será anunciada após o dia 20 de dezembro, uma vez que depende de análises financeiras por parte da SPTrans.
Enquanto isso, especialistas em transportes alertam que, se o valor da tarifa for mantido em R$ 5, será necessário um aumento do subsídio em 2026, que é previsto em R$ 6,2 bilhões. Ciro Biderman, professor da FGV, comentou que o atual modelo de subsídio pode não incentivar a melhoria da qualidade do transporte na cidade, pois as empresas sabem que os custos serão compensados pelo governo, o que afeta diretamente a experiência dos usuários.
Desafios futuros para o transporte público
Com a crescente pressão sobre o sistema de transporte e as finanças municipais, a gestão de Nunes enfrenta um desafio significativo para equilibrar os custos e a qualidade do serviço, especialmente em um ano eleitoral. A expectativa é que as discussões sobre o aumento das tarifas sejam amplamente debatidas na Câmara Municipal antes da decisão final, em busca de um equilíbrio que considere as necessidades dos usuários e a sustentabilidade financeira do sistema.
O futuro das tarifas de ônibus em São Paulo se mostra incerto; um equilíbrio entre investimento, arrecadação e qualidade do serviço é crucial para atender a demanda de um dos maiores sistemas de transporte público do Brasil.


