A recente decisão de Jair Bolsonaro (PL) de apoiar a pré-candidatura de um de seus filhos, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), à presidência de 2026 trouxe à tona uma reconfiguração significativa no grupo político do ex-presidente. Essa movimentação não apenas realçou a disputa pela liderança entre os descendentes de Bolsonaro, mas também acentuou a despolitização de Michelle Bolsonaro, que se afastou dos holofotes e perdeu espaço influente nas decisões do projeto político familiar.
A crescente tensão política entre os Bolsonaro
Embora Flávio Bolsonaro não tenha, a princípio, a simpatia do Centrão, o anúncio de sua intenção de concorrer à presidência foi visto como um passo crucial para o avanço da dosimetria, que busca a redução das penas de condenados por ações ligadas a tentativas de golpe, incluindo a de Jair Bolsonaro. Esse projeto, de acordo com aliados, foi rapidamente levado ao plenário, após Flávio sugerir que haveria “um preço” a pagar se retrocedesse em suas ambições políticas.
Flávio, após receber resistência, alterou sua estratégia de comunicação, afirmando que não desistiria. Ele organizou um jantar com figuras proeminentes do Centrão na tentativa de angariar apoio, mas relatos indicam que a reunião não foi produtiva — marcada por uma atmosfera tensa e falta de entusiasmo por parte dos líderes políticos presentes.
Michelle Bolsonaro: o afastamento e suas consequências
Enquanto Flávio tentava estabelecer sua posição no cenário político, Michelle se afastou gradualmente de sua função no PL Mulher, diminuindo suas aparições públicas e pausando atividades. A ex-primeira-dama estava lidando com problemas de saúde e tensões relacionadas à prisão de seu marido, o que a fez afastar-se ainda mais das decisões políticas.
De acordo com Damares Alves, senadora próxima a Michelle, essa pausa se deu tanto por questões de saúde da ex-primeira-dama quanto pela preocupação com sua filha, Laurinha, que tem apenas 15 anos. O comunicado do PL Mulher ressaltou que as tensões familiares, exacerbadas pela situação de Jair Bolsonaro, impactaram a imunidade e a disposição da ex-primeira-dama.
O cenário de disputas e alianças
Nos bastidores, a rivalidade entre Flávio e Michelle se intensificou. O apoio explícito de Jair Bolsonaro à candidatura de Flávio gerou desconforto em Michelle, que passou a expressar, em conversas restritas, sua insatisfação com a exclusão das decisões políticas centrais da família. A frase “terei que me contentar com o Senado” ficou cirandando nas discussões do PL, refletindo seu desconforto no atual cenário de poder.
Um episódio marcante ocorreu durante uma visita de Michelle e Flávio ao pai na sede da Polícia Federal, onde Jair expressou entusiasmo pelo avanço da dosimetria, claramente mostrando apoio ao filho. Isso contrastou com o descontentamento de Michelle, que desabafou sobre ser excluída das deliberações importantes.
A ascensão de Flávio à frente do projeto presidencial era uma iminente ameaça para Michelle, que anteriormente havia conquistado espaço significativo dentro do PL, ao articular, por exemplo, a retirada do apoio do partido a Ciro Gomes, contrariando as visões de seus irmãos Flávio e Carlos Bolsonaro.
Olhos no futuro: quem será o candidato do bolsonarismo?
O descompasso entre Flávio e Michelle é alarmante, mas ambos têm se esforçado para manter uma fachada de cordialidade em eventos públicos. Flávio reconheceu a importância de Michelle em seu projeto, sugerindo que ela terá um papel fundamental em 2026, promovendo sua imagem como parte integrante de sua candidatura.
No entanto, em meio a tentativas de pacificação disseminadas por aliados, o futuro permanece incerto para o bolsonarismo. Líderes do PL continuam a afirmar que todos na família têm a mesma influência, mas tais declarações contrastam com os sentimentos expressos nos bastidores sobre uma clara divisão de poder e ambições divergentes.
Diante desse cenário, especulações sobre quem será o verdadeiro candidato do bolsonarismo em 2026 se intensificam. O apoio de Jair a Flávio pode, de fato, dominá-lo em um momento onde Michelle, que antes estava ascendendo, pode ter que se contentar com um papel secundário, saindo das decisões estratégicas para a disputa presidencial.
À medida que as tensões aumentam e as candidaturas se delineiam, o Brasil observa atentamente o desenrolar desse embate familiar que pode influenciar o futuro político do país e do bolsonarismo nas próximas eleições.



