A possibilidade de Flávio Bolsonaro concorrer à presidência em 2026 causou preocupação nos mercados financeiros brasileiros, que vêm operando de olho nas eleições. O impacto foi imediato: a Bolsa de Valores registrou forte queda, o dólar subiu e as taxas de juros passaram a ficar mais pressionadas, contrariando movimentos globais ou de países vizinhos.
Reação dos ativos diante da provável candidatura de Flávio Bolsonaro
O mercado tem demonstrado grande sensibilidade às negociações políticas e às declarações ligadas ao pleito presidencial. A baixa na competitividade do senador é vista como um fator que aumenta a chance de reeleição de Lula, o que eleva a aversão ao risco. Como consequência, os investidores vendem ações e elevam o preço do dólar, buscando proteção contra a incerteza política.
Contexto e desdobramentos recentes
Desde o início do ano, a percepção de risco no mercado tem sido influenciada por fatores internos, como a alta da taxa de desaprovação ao presidente Lula. Em janeiro, esse índice saltou para 40%, impulsionado por críticas a medidas econômicas e por eventos políticos relacionados à fiscalização do Pix. Essa mudança gerou uma onda de otimismo na Bolsa e de queda no dólar, refletindo a expectativa de maior estabilidade.
Apesar da melhora na aprovação do presidente após ações de controle de preços e queda da inflação, a avaliação de sua gestão ainda não voltou ao patamar favorável de 2023 e 2024. A desaprovação permanece maior que a aprovação, reforçando a incerteza política e seus efeitos no mercado.
Desempenho dos ativos brasileiros e fatores de influência
O cenário de alta dos ativos brasileiros, sobretudo da Bolsa, neste ano, é parcialmente atribuído às especulações eleitorais. A valorização nominal chegou a quase 37% até o dia 4 de dezembro, data do anúncio da possível candidatura de Flávio Bolsonaro, com alta de 52% em dólar — muito acima da média de 30% entre mercados emergentes.
Contudo, indicadores econômicos mostram sinais de desaceleração. O crescimento interno, medido pela demanda das famílias, do setor público e dos investimentos, avançou apenas 2,1% até o terceiro trimestre, contra 4,8% de 2024. O câmbio também acusou impacto, valorizando-se 14% no mesmo período, em parte devido ao diferencial de juros internos e externos.
Comparações com anos anteriores e o contexto político
Em 2024, com alta popularidade de Lula, os mercados tiveram desempenho negativo. O Ibovespa caiu 10% em termos nominais, e a perda em dólar foi de 30%, apesar de o PIB ter crescido 3,4%, superior à média da OCDE e de países vizinhos. O real também se depreciou 28%, enquanto moedas de outros emergentes perderam cerca de 8%, refletindo o aumento do risco político e fiscal.
Risco fiscal e insegurança política
Especialistas apontam que a elevação do risco fiscal é um dos principais fatores para o nervosismo do mercado. As promessas populistas e a dificuldade de implementar medidas de ajuste fiscal, como reformas, aumentam a percepção de que somente a manutenção de um quadro de maior incerteza pode elevar ainda mais o risco.
Na Fazenda, a herança de Bolsonaro e o conservadorismo do Banco Central contribuem para a valorização do risco, encarecendo ainda mais a dívida pública. Continuar com as mesmas políticas por mais anos pode resultar em juros altos persistentes, comprometendo o crescimento econômico e alimentando a percepção de risco.
A situação de Flávio Bolsonaro como aviso
O avanço de Flávio Bolsonaro na política indica uma potencial correção de preços ante a ausência de um compromisso convincente de Lula com um plano de consolidação fiscal. Sem uma postura clara, não haverá uma “lua de mel” no mercado, e a aversão ao risco pode se intensificar ainda mais.
Próximos passos e perspectivas eleitorais
A decisão sobre o nome do próximo responsável pela Fazenda será crucial para o cenário econômico. O ministro Fernando Haddad já sinalizou que não pretende continuar no cargo, e essa incógnita aumenta a volatilidade das projeções econômicas e financeiras do país.
Assim, o mercado aguarda com atenção o desfecho das negociações políticas, ciente de que o risco de uma eleição polarizada e sem medidas de ajuste pode colocar em risco a trajetória de recuperação dos ativos brasileiros.
Para mais detalhes, acesse a coluna de Zeina Latif na Fonte Original.


