No último dia 9 de dezembro, a Câmara dos Deputados protagonizou um episódio alarmante ao impedir que profissionais da imprensa cobrissem a tentativa de obstrução realizada pelo deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). A ação gerou indignação entre jornalistas e organizações de mídia, levantando questões sobre a liberdade de imprensa no Brasil.
A tentativa de obstrução e a resposta da polícia legislativa
O clima tenso começou quando Glauber soube que sua cassação seria votada no dia seguinte. Em um ato de protesto, ele ocupou a cadeira do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e declarou que não sairia. Enquanto isso, a tensão aumentava no plenário da Câmara, com a Polícia Legislativa se preparando para remover o deputado à força.
Durante a ação, repórteres presentes no local foram expulsos das galerias e do plenário, tendo suas coberturas do evento cerceadas. A medida visava evitar que a saída do deputado fosse registrada. Em um momento crítico, os sinais da TV Câmara foram abruptamente cortados, interrompendo a transmissão da sessão e limitando ainda mais o acesso da imprensa à cobertura do evento.
Conflito físico e acusações de violência
O que se seguiu foi um embate entre agentes da polícia legislativa e profissionais da imprensa que estavam tentando realizar seu trabalho. Ao tentarem abrir um corredor para a passagem de Glauber Braga, os policiais acabaram agredindo jornalistas próximos ao Salão Verde, uma área comum de diálogo na Câmara.
Profissionais da mídia denunciaram agressões físicas e tentativas de afastá-los de onde estavam, o que intensificou as críticas ao manejo da situação por parte da polícia legislativa. A situação culminou em um princípio de confusão, com a imprensa sendo forçada a recuar, enquanto Glauber era cercado por aliados legislativos.
Reações e condenações
A reação ao ocorrido não demorou a surgir. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) emitiram uma nota conjunta condenando o cerceamento do trabalho dos jornalistas, destacando a gravidade da situação. “O impedimento do trabalho de jornalistas é incompatível com o exercício da liberdade de imprensa”, afirma a nota, enfatizando a necessidade de apuração rigorosa dos eventos e reforçando que tais ações não podem se repetir.
A nota também menciona a importância dos princípios constitucionais que proíbem explicitamente a censura e a intimidação à imprensa, um pilar da democracia brasileira que está sob constante vigilância.
Desdobramentos e promessas de investigação
Enquanto isso, o deputado Hugo Motta anunciou nas redes sociais que havia determinado uma investigação para apurar possíveis abusos por parte dos agentes de segurança durante a cobertura da imprensa. Este gesto foi recebido com ceticismo por muitos, que argumentam que a liberdade de imprensa não deve ser sujeita a investigações após episódios em que direitos fundamentais são violados.
O caso expõe, mais uma vez, a fragilidade da liberdade de imprensa no Brasil, em um contexto onde a relação entre Legislativo e a mídia está cada vez mais tensa. Sinais de preocupação com a possibilidade de uma escalada de violência contra jornalistas que exercem seu trabalho de forma independente têm crescido em todo o país, e episódios como o que aconteceu na Câmara apenas agravam essa situação.
As consequências desse incidente ainda estão por ser avaliadas, mas a pressão por maior proteção e respeito aos direitos dos profissionais de imprensa só tende a aumentar, refletindo uma sociedade que exige mais transparência e respeito à democracia.



