Menos de 48 horas após anunciar a sua candidatura à Presidência da República, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) admitiu, em uma declaração surpreendente, a possibilidade de abandonar seu projeto. Após participar de um culto em Brasília, que era considerado sua primeira agenda de pré-campanha, Flávio ressaltou que sua saída da corrida eleitoral dependeria de “um preço” a ser negociado com o Congresso. Ele enfrenta uma falta de apoio do Centrão e pressões devido ao fraco desempenho nas pesquisas.
Cenário político e pesquisa Datafolha
De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no último sábado, apenas 8% dos entrevistados consideram Flávio o melhor nome para receber o apoio de seu pai, Jair Bolsonaro. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro é vista como a opção mais viável, com 22%, seguida pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que obteve 20%. Esses números revelam um cenário complicado para Flávio, especialmente considerando que 50% das pessoas entrevistadas afirmaram que não votariam em um candidato indicado pelo ex-presidente.
Durante o culto, Flávio se manifestou de forma direta ao afirmar que poderia não ir até o fim da candidatura: “Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Vou negociar.” Essa afirmativa tem causado especulações sobre uma possível negociação para a aprovação de uma anistia a Jair Bolsonaro, que atualmente cumpre pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe de Estado.
Apoio do Centrão e possíveis alianças
Desde o anúncio da candidatura, bolsonaristas nas redes sociais discutem a possibilidade de que o lançamento de Flávio seja parte de uma estratégia para libertar seu pai da prisão. Há conversas em torno da ideia de que o Centrão poderia apoiar uma proposta de perdão em troca de uma “união da direita”, com foco na candidatura do governador Tarcísio de Freitas.
Atualmente, Tarcísio é considerado o postulante mais competitivo para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca a reeleição. Flávio, ao se manifestar sobre sua pré-candidatura, elogiou abertamente Tarcísio e destacou a importância de conversas com ele, afirmando: “A primeira pessoa que eu quis conversar foi o Tarcísio. E a reação dele foi muito boa.”
Expectativas e reações no Congresso
Flávio Bolsonaro se reunirá com lideranças do Centrão e espera que o projeto de anistia seja pautado ainda esta semana. Entre os participantes do encontro estarão líderes de partidos relevantes, como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União Brasil). Ele expressou expectativas de que os presidentes da Câmara e do Senado cumpram promessas feitas anteriormente sobre pautar a anistia.
No entanto, no Congresso, existem dificuldades até mesmo para avançar com projetos mais restritos relacionados ao tema, como a proposta de redução de pena para alguns crimes cometidos durante a tentativa de golpe. Enquanto isso, integrantes do Centrão têm hesitado em afirmar se uma negociação terá resultados positivos, com alguns avaliando a candidatur de Flávio como indicativa de falta de liderança.
Para os governistas, a postura do senador é vista como um “vexame”. O líder do PT, Lindbergh Farias, criticou a candidatura de Flávio, chamando-a de “uma piada” e afirmando que suas declarações sobre ter “um preço” refletem o método da família Bolsonaro em recorrer à chantagem para alcançar objetivos políticos.
A reação do mercado e perspectivas futuras
Flávio também comentou sobre a reação do mercado após o anúncio de sua candidatura, que viu quedas na Bolsa de Valores. O senador minimizou o impacto, afirmando que a análise do mercado foi “precipitada” e insistindo que se apresenta como “um Bolsonaro diferente, mais centrado, que conhece política, conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país”.
Logo, há um grande enigma a ser desvendado nas próximas semanas: Flávio Bolsonaro persistirá em sua candidatura ou prevalecerá o raciocínio de que ele deve se retirar da corrida para fortalecer a posição do seu pai e do Centrão em um cenário de instabilidade política?
Nos próximos dias, Flávio também planeja visitar seu pai na prisão para atualizar Jair sobre o resultado das negociações no Congresso. A situação política e as decisões que serão tomadas entre os aliados moldarão o futuro tanto da candidatura de Flávio quanto da dinâmica política brasileira pelas próximas eleições.



