No último dia 3 de janeiro, uma tragédia marcante abalou a Polícia Militar do Ceará com a morte da soldada Larissa Gomes da Silva, de apenas 26 anos. Ela foi assassinada a tiros em um conflito com seu companheiro, também policial militar. O caso, que já se desenrolava em meio a um histórico de agressões, ficou ainda mais complexo quando, em uma ação controversa, policiais invadiram o apartamento da vítima, provocando a indignação de sua família.
O ocorrido e a invasão não autorizada
Na sexta-feira, 5 de janeiro, a família de Larissa foi informada pela portaria do condomínio sobre a entrada de policiais no apartamento. Esses agentes, conforme relatado, não possuíam ordem judicial e utilizaram uma chave para acessar o local. O que se seguiu foi uma reviravolta chamativa na narrativa do caso: o quarto de Larissa foi encontrado bagunçado e, segundo sua mãe, havia indícios de que algo importante poderia ter sido retirado ou intrusado como evidência. “O que eles estavam fazendo ali? Passaram uma hora dentro do apartamento dela sem serem de investigação,” questionou Fabíola Gomes, mãe da policial, em uma clara demonstração de insegurança e indignação.
A situação se complica ainda mais quando se considera o contexto de violência que existia no relacionamento. Larissa, mãe de três filhos e admirada por seus colegas, estava em um relacionamento com Joaquim Filho, de 26 anos, que agora é o principal suspeito de feminicídio.
Histórico de violência doméstica
A relação entre Larissa e Joaquim foi marcada por episódios de violência, como foram relatados pela mãe da policial. Fabíola revelou que, durante os quatro anos de relacionamento, Joaquim havia, em várias ocasiões, agredido a filha, chegando ao ponto de disparar tiros em sua presença e rasgar seu colchão. “Ele já deu tiro na garrafa dela, por ela estar conversando com um colega de trabalho. Foi tiro no sofá, já rasgou o colchão dela todinho de faca,” afirmou. Essa situação de controle e agressão constante fez com que muitos na comunidade e dentro da própria corporação se perguntassem o quão longe essas práticas podem chegar antes que uma vida se perca.
Ainda segundo a mãe, Larissa chegou a fazer um registro de algumas das agressões que sofria, enviando mensagens e relatos a colegas sobre os abusos enfrentados. Apesar de acreditar que vivia um relacionamento conturbado, Larissa tentava manter a segurança de seus filhos, que residiam com a avó.
A tragédia e suas consequências
No dia do ocorrido, segundo relatos, Larissa e Joaquim trocaram tiros durante uma discussão, resultando na morte da policial e em ferimentos em Joaquim. Ambos foram levados para uma unidade de saúde, onde Larissa foi declarada morta. A caracterização dos eventos ainda está em investigação, e a Polícia Militar não se posicionou sobre a possível configuração de feminicídio no caso.
Questões pendentes sobre investigação e justiça
A invasão e a forma como os policiais conduziram a questão levantam sérias dúvidas sobre o tratamento da violência de gênero dentro das forças policiais. Situações como essa não apenas ferem a memória da vítima, mas também tornam a busca por justiça ainda mais complexa. Com os autonômos envolvidos em evidenciar um crime cometido por um de seus próprios, a percepção de imparcialidade e investigação adequada é rapidamente questionada.
O caso de Larissa Gomes toca em feridas profundas que a sociedade brasileira enfrenta sobre a violência contra as mulheres. A quantidade de mortes relacionadas à violência de gênero traz à tona a urgência de se discutir e erradicar essas práticas. Para muitos, Larissa não era apenas uma policial, mas uma mulher que lutava por seus sonhos e sua família. O clamor por justiça ressoa na comunidade e entre os colegas de farda que a lembram com carinho e respeito.
Legado e a necessidade de mudança
O assassinato de Larissa é um lembrete doloroso de que a violência contra as mulheres não é apenas um problema social, mas uma questão que deve ser abordada com urgência por todos os setores da sociedade. Como se questiona a ação da polícia e a natureza do relacionamento abusivo, a história de Larissa pode servir como um catalisador para promover mudanças significativas em políticas de proteção às mulheres, além de uma reavaliação nas abordagens feitas dentro do próprio sistema de segurança pública. O desejo por um futuro onde histórias como a de Larissa deixem de ser uma realidade é compartilhado não apenas por sua família e amigos, mas por toda uma sociedade que clama por igualdade e justiça.


