A 104ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais (USG) conclui-se nesta sexta-feira, 28 de novembro, na Fraterna Domus, em Sacrofano, próximo a Roma. Durante os dias de encontros, várias discussões foram realizadas sobre temas relevantes como a inteligência artificial, seus riscos e benefícios, além de abordagens sobre os “abusos espirituais”.
Diálogos sobre espiritualidade contemporânea
Após um encontro com o Papa Leão XIV na quarta-feira, os religiosos da USG se reuniram na quinta-feira na Fraterna Domus para debater o tema: “A oração hoje: tradições religiosas em comparação”. Entre os participantes estavam o reitor-mor dos Salesianos, padre Fabio Attard, o padre beneditino Jeremias Schröder e o irmão Pascal Ahodegnon, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus. O padre Attard focou na vitalidade da espiritualidade salesiana e seu papel como âncora espiritual no mundo contemporâneo.
A experiência de Dom Bosco e a espiritualidade salesiana
O padre Attard destacou que “toda espiritualidade é moldada pelo seu contexto”. Ele ressaltou que a espiritualidade, sendo um dom do Espírito, tem a capacidade de se encarnar nas diferentes épocas e contextos sociais. Ele se referiu ao legado das tradições religiosas que moldaram a Igreja e o mundo ao longo dos séculos, particularmente a atuação de Dom Bosco, cuja abordagem pastoral transformou a vida de muitos jovens. “O encontro desejado com a realidade dos jovens é um ponto fixo que fundamenta nossa proposta pastoral”, explicou Attard.
Ele destacou as quatro dimensões da proposta pastoral salesiana, que são processos contínuos e não meros objetivos a serem alcançados. Para Attard, o “sistema preventivo” é um legado carismático que possibilita interações educativas e pastorais em diversas culturas. “Esse sistema continua a criar espaços de diálogo e convergência entre jovens de várias religiões e sem religião”, concluiu o padre.
Espiritualidade e hospitalidade na era da IA
O irmão Pascal Ahodegnon aproveitou a oportunidade para discutir a espiritualidade hospitaleira em um mundo dominado pela inteligência artificial e pela tecnologia digital. Ele enfatizou que as pessoas hoje clamam por conexão e sentido, muitas vezes em um silêncio ensurdecedor. “É tempo de parar para amar, ouvir e tocar. Esta parada é o que nossa Ordem tem praticado por quase cinco séculos”, afirmou.
A missão da Ordem, segundo ele, não é resistir à era digital, mas transformá-la e habitar esse espaço com hospitalidade evangélica. “Devemos nos lembrar de onde viemos e de quem somos. A espiritualidade hospitaleira não deve ser apenas preservada, mas sim plantada como uma semente em um novo mundo que exige nossa presença e ação”, refletiu Ahodegnon.
Discussões sobre os abusos espirituais e a influência da tecnologia
Os debates na Assembleia da USG prosseguiram com uma apresentação do padre Carlo Casalone, jesuíta, sobre “Inteligência Artificial e Mídias Sociais: Impactos Antropológicos e Espirituais na Oração”. A programação da assembleia incluiu um encontro na sexta-feira, que destacou os “Abusos Espirituais”, com uma apresentação da irmã Tiziana Merletti, do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Além disso, Dr. Tomás Insua, diretor do Instituto Laudato Si’, apresentou uma reflexão sobre o significado de comemorar o “Mistério da Criação em Cristo”. Este conjunto de discussões e reflexões na Assembleia da USG ilustra o envolvimento da Igreja em questões contemporâneas e seu papel na formação de uma espiritualidade que dialogue com os desafios atuais da sociedade.
Com o término da 104ª Assembleia, os participantes deixaram Sacrofano com a certeza de que a espiritualidade na era digital é um caminho que requer constante reflexão e adaptação, visando sempre a promoção da dignidade humana e a hospitalidade em todas as suas dimensões.



