O Vaticano publicou nesta segunda-feira (25) um documento que defende a monogamia como a forma adequada de casamento, em meio à crescente popularidade do poliamor e às dificuldades pastorais diante da conversão de pessoas em situações poligâmicas. A nova nota, intitulada “One Flesh: In Praise of Monogamy”, foi lançada pela Congregação para a Doutrina da Fé e enfatiza a importância do vínculo exclusivo entre os cônjuges.
A importância da monogamia na visão do Vaticano
Segundo o documento, “a poligamia, o adultério ou o poliamor sustentam a ilusão de que a intensidade do relacionamento pode ser encontrada na sucessão de parceiros”, evitando assim a união plena e duradoura no matrimônio. A nota utiliza a metáfora do mito de Don Juan, sedutor infiel, para demonstrar que multiplicar parceiros fragmenta o significado do amor conjugal.
A Igreja também recorre às reflexões de poetas como Walt Whitman, Pablo Neruda, Rabindranath Tagore e Emily Dickinson, além do filósofo Søren Kierkegaard, para fundamentar sua argumentação sobre a união monogâmica e seus valores.
Aspecto unificador do matrimônio e o amor total
O texto reforça que o matrimônio não se limita apenas à procriação, mas é uma “comunhão de amor e vida” que deve promover o bem integral dos cônjuges. “Um vínculo que une os esposos na amizade e na entrega total,” afirma o documento, ressaltando que esse amor deve ser exclusivo e reconhecido pelo pacto de fidelidade.
O documento não aborda a indissolubilidade do matrimônio ou seu propósito de gerar filhos, focando especificamente na dimensão unificadora da união conjugal.
Saúde sexual e abertura à vida
Outro ponto destacado é que orientar a sexualidade dentro do amor conjugal não significa desvalorizar o prazer sexual. Pelo contrário, a ênfase está na relação sexual como expressão do dom total de si a outro, promovendo a autentyca realização pessoal.
O Vaticano critica as culturas contemporâneas que reduzem a sexualidade ao consumo, alertando para os riscos de uma busca desenfreada por prazer e a negação de seu propósito reprodutivo, defendendo uma abertura à vida como manifestação de “caridade conjugal”.
Dignidade da mulher e desafios sociais
Na abordagem antropológica, o documento reafirma que a defesa da monogamia é uma forma de preservação da dignidade da mulher, garantindo que ela possa exercer sua liberdade de escolha dentro de um pacto exclusivo. “A unidade do matrimônio implica uma decisão livre da mulher, que deve poder exigir reciprocidade exclusiva,” destaca o texto.
A nota também aborda a questão da violência sexual, que cresce nas redes sociais, e reforça a necessidade de educar para o amor fiel e monogâmico. “A educação na monogamia não é uma restrição moral, mas uma iniciação na grandeza de um amor que transcende a immediaticidade,” afirma.
Raízes teológicas e tradições cristãs
O documento traz uma revisão ampla da tradição cristã, citando padres e papas, como São João Crisóstomo, que via na união conjugal uma solução para “desordens sexuais sem amor ou fidelidade.”
Cita, ainda, o Catecismo da Igreja Católica, abordando os desafios de quem, desejando converter-se ao catolicismo, enfrenta realidades familiares complexas, especialmente em regiões onde o poliginia é comum. Países como Índia e países da África, onde o poligamia ainda acontece, são mencionados como contextos de atenção pastoral.
Na África, os bispos elaboraram diretrizes pastorais para acolher pessoas em situações poligâmicas sem comprometer os ensinamentos da Igreja, procurando proteger mulheres e crianças contra vulnerabilidades, como abandono e pobreza (ver documento).
Perspectivas e próximos passos
O Vaticano convidou a comunidade católica a refletir sobre a importância de reforçar o amor monogâmico como um caminho para o respeito, a dignidade e o bem comum na sociedade. A publicação busca ainda orientar os fiéis na compreensão da união conjugal como uma entrega total e exclusiva.
O documento é resultado de debates durante o Sínodo sobre Sinodalidade, especialmente a pedido dos bispos africanos, que pediram orientações pastorais sobre o tema da poligamia.
A expectativa é que a nota seja utilizada como base para futuras ações educativas e pastoralismo na Igreja Universal, com ênfase na fidelidade e na promoção do amor verdadeiro.
Para saber mais, acesse a nota oficial do Vaticano aqui.


