Nesta sexta-feira (22 de novembro), o sol se punha sobre a Amazônia, marcando o encerramento oficial da COP30, realizada em Belém. Prometida como uma cúpula do povo, a conferência mostrou-se distante dessa promessa, dominada por interesses econômicos e estratégias de adiamento na luta contra as mudanças climáticas, enquanto o mundo enfrenta um aquecimento de 1,6°C.
Participação indígena e desigualdades
Mais de 5.000 indígenas estiveram presentes na conferência, mas apenas 360 tiveram acesso à principal zona de negociações, em contraste com 1.600 delegados ligados à indústria de combustíveis fósseis. As decisões foram tomadas sem a participação direta dessas comunidades, que continuam como observadoras, sem direito a voto ou a reuniões fechadas.
Apesar da escolha do local na Amazônia simbolizar uma preocupação com a região, os custos da cúpula foram elevados. O governo brasileiro alugou dois navios de cruzeiro para acomodar os delegados, cuja pegada de carbono é significativamente maior do que a de hotéis tradicionais, evidenciando a desigualdade social no país.
Protestos e avanços limitados
Foi a segunda maior cúpula climática da ONU, e a primeira desde Glasgow (2021) a permitir protestos públicos reais. Mobilizações diárias, especialmente uma marcha indígena, pressionaram por reconhecimento territorial, levando à criação de quatro novas áreas protegidas. Ainda assim, os avanços permanecem modestos frente às expectativas.
A ausência dos EUA e a influência da China
Os Estados Unidos optaram por não enviar uma delegação oficial, uma decisão que, apesar de gerar um vazio, facilitou a continuidade das negociações. A China assumiu espaço, promovendo suas indústrias de energia renovável e atraindo países interessados em seu mercado. Para muitos delegados, a ausência dos EUA foi um alívio, permitindo foco na negociação de textos e acordos.
Implementação de compromissos voluntários
Ao invés de acordos vinculantes, as ações apontaram para compromissos voluntários, como o aumento na produção de combustíveis sustentáveis, apoiado por países como Japão, Índia e Brasil, e o lançamento de fundos para conservação florestal. Contudo, os resultados não chegam perto de limitar o aquecimento a 1,5°C, e o texto final não inclui termos essenciais como “combustíveis fósseis”.
Uma oportunidade perdida e o futuro da negociação climática
Uma esperança na COP30 foi a proposta do “Mutirão Global”, que visava um roteiro de transição para os combustíveis fósseis, apoiado por mais de 80 países. Contudo, a resistência de grandes produtores, como Arábia Saudita e Índia, impediu avanços concretos, levando à sua frustração e a uma revisão de seis meses. Essa ausência de ações decisivas revela o fosso cada vez maior entre os países produtores de petróleo e o resto do mundo.
As negociações indicam uma tendência de migrar para países onde protestos são cada vez mais limitados. Mesmo com a crescente urgência, as decisões permanecem paralisadas em círculos de atrasos e interesses econômicos, prejudicando a efetiva ação contra a crise climática.
Este artigo foi elaborado pelos docentes Simon Chin-Yee, Mark Maslin e Priti Parikh, da University College London, e reproduzido de The Conversation sob licença Creative Commons.


