Na manhã desta terça-feira, foi apresentado à imprensa a Nota Doutrinária do Dicastério para a Doutrina da Fé, intitulada “Una caro”, que reafirma o valor da monogamia como um modelo de “união exclusiva e pertencimento mútuo”. O documento foi revelado pelo cardeal Víctor Manuel Fernández e a professora Giuseppina De Simone, seus principais autores. Durante a apresentação, enfatizou-se a importância do matrimônio para a defesa da dignidade da mulher, abordando a relação entre amor, liberdade e compromisso.
A unidade dinâmica do matrimônio
Durante a apresentação, o cardeal Fernández comunicou que o casamento é uma relação que se constrói através de dinâmicas como o “eu-você”, onde a união e a reciprocidade dos cônjuges são fundamentais. Segundo o texto, esse vínculo não é estático, mas sim dinâmico, refletindo a convivência e os desafios contemporâneos, inclusive a questão da poligamia, que preocupa a Igreja. Além disso, ele destacou que o Dicastério recebeu pedidos de bispos africanos em busca de diretrizes sobre o valor da monogamia.
Amor totalizante como escolha recorrente
Fernández ressaltou que a união matrimonial deve ser vista como “totalizante”, citando a expressão bíblica da “uma só carne” para indicar que tal união transcende a limitação da liberdade pessoal. Ele explica que, se o matrimônio não for entre duas pessoas, não haverá um compartilhamento total na relação. O cardeal também referiu-se à obra de teólogos e poetas sobre o amor, como Dietrich von Hildebrand, que discute as nuances da relação entre o “nós” e o “eu-tu”. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, também enfatiza a escolha repetida e consciente de amar no casamento.
A dignidade individual no laço matrimonial
Um dos pontos centrais abordados foi a “dignidade inalienável” dos cônjuges. O Cântico dos Cânticos foi citado para ilustrar que, em um vínculo matrimonial, ambos devem ser iguais em dignidade. O cardeal Fernández reforçou que garantir a monogamia é proteger a dignidade da mulher e que isso deve ser respeitado mesmo em situações de procriação. Ele alerta que o casamento não deve ser uma ferramenta de domínio ou posses indevidas, que incluem ciúmes e infidelidades, mas sim um espaço seguro de amor e apoio mútuo.
A pertença recíproca implica liberdade
A professora De Simone focou no caráter positivo da monogamia, chamando-a de um “elogio”. Segundo ela, esse conceito não deve ser reduzido a categorias estritas, mas deve ser interpretado num contexto de vida plena e de significados. O amor, segundo a professora, é uma chamada à coragem e à humanidade, que reconhece a sacralidade do outro, demandando um respeito profundo pela liberdade e individualidade de cada cônjuge.
Perguntas da imprensa
Após a apresentação, o cardeal respondeu a questões dos jornalistas, esclarecendo que o conteúdo do documento foi elaborado há meses, mas sua divulgação foi postergada. O texto não se detém sobre questões de contracepção e enfatiza a realidade delicada que envolve a poligamia em certas regiões africanas, onde a prática ainda é comum. A proposta é que a discussão sobre a monogamia e seus valores possa se expandir para todas as formas de relações humanas, abrangendo solteiros e sacerdotes, todos dignos de serem incluídos nesse debate.
A Nota Doutrinária “Una caro” propõe, portanto, uma reflexão abrangente sobre o matrimônio, ressaltando a importância da monogamia como um caminho para a dignidade e para a plenitude da liberdade entre os cônjuges.



