Karina Buchalla Lutkus, aos 46 anos, fez história ao se tornar a primeira brasileira a assumir o posto de comandante do Airbus A380 da Emirates, o maior avião comercial do mundo. Sua jornada é marcada por desafios, preconceitos e uma determinação inabalável. A conquista se concretizou em 27 de outubro deste ano e simboliza muito mais do que apenas uma função – é uma vitória pessoal que representa também a luta das mulheres na aviação.
Um sonho que começou na infância
Nascida em uma família de pilotos, Karina cresceu sabendo que queria seguir os passos do pai. Desde pequena, expressava o desejo de ser piloto, mesmo em um ambiente onde as mulheres eram sub-representadas na aviação. Em uma entrevista, ela compartilhou: “Meu pai, que era comandante da Varig, tinha medo do preconceito que eu poderia enfrentar: ‘Como você vai casar e ter filhos?’, ele perguntava. Mas eu mantive a firmeza: ‘É o que eu quero’.”
Essa convicção levou Karina a a dar os primeiros passos no aeroclube, onde, mesmo sob as manobras desafiadoras que seu pai pediu para o instrutor realizar, sua paixão pela aviação só cresceu. “A cada manobra que fazia, mais eu gostava”, recorda.
Superando preconceitos e dificuldades
Logo nos primeiros passos da carreira, Karina encontrou barreiras. A proximidade da aviação não era apenas desafiadora por si só, mas também se tornava mais complicada por ser mulher. “Alguns colegas no curso diziam: ‘Desiste, você nunca vai servir para isso’”, relembra Karina, que, apesar das palavras desanimadoras, seguiu em frente. “Eu tinha suporte em casa e permaneci focada no meu objetivo.”
Conseguir um emprego na área foi outro desafio. Karina enfrentou a realidade de trabalhar por longos períodos sem remuneração, apenas para acumular horas de voo necessárias para se tornar uma piloto licenciada. Apesar das dificuldades, sua determinação a levou a conquistar um lugar como copiloto em uma companhia aérea e, posteriormente, a ficar no comando da aviação.
Desafios de carreira e conquistas
A trajetória de Karina teve reviravoltas significativas. Em 2001, participou de um processo seletivo na Varig, que foi interrompido por conta dos atentados de 11 de setembro. Depois, enquanto seus sonhos pareciam finalmente se concretizar ao ser admitida na TAM, dois acidentes na companhia também a impediram de decolar.
Após muito esforço e resiliência, finalmente ela conseguiu um lugar na TAM em 2004, onde evoluiu rapidamente: de copiloto de Fokker 100 a comandante de Airbus 320, passando pelo Airbus 330 com voos internacionais. Em 2019, após um longo percurso, decidiu seguir seu sonho e se juntar à Emirates, onde se tornou a primeira mulher brasileira a pilotar o A380.
Realização de um sonho e a rotina em Dubai
Karina descreve a experiência de pilotar o A380 como incrível. “É uma aeronave que leva um número enorme de passageiros, com tecnologia de ponta e segurança excepcional”, afirma. Hoje, ela mora em Dubai com seu marido, também piloto aposentado, e seus filhos pequenos. Essa nova fase da vida traz equilíbrio, já que na Emirates, ela costuma passar de dois a três dias em voo e cinco em casa.
“A qualidade de vida é excelente e sou muito feliz com a empresa. Estou sempre em casa, aproveito minha família e tenho um suporte imenso. Isso me leva a ter uma rotina balanceada e produtiva.”
Uma mensagem de perseverança
Karina finaliza sua história com uma mensagem poderosa: “Nunca desistam dos sonhos. A gente consegue realmente tudo o que quer, desde que tenha foco, comprometimento e resiliência. É normal cair, o importante é levantar e continuar lutando.” Sua trajetória não é apenas uma inspiração para outras mulheres na aviação, mas um reflexo de que é possível quebrar barreiras e realizar sonhos, independentemente dos desafios.
