O professor Mobeen Shahid descreve uma “deterioração ano após ano” na situação dos cristãos no Paquistão, agravada pela atual dinâmica política e militar na região. Com a crescente presença militar e conflitos abertos com a Índia e o Afeganistão, a vida das minorias religiosas no país se torna cada vez mais ameaçadora.
O risco do extremismo
A nação paquistanesa, com aproximadamente 1,9% de cristãos em sua população, se vê envolta em um clima de intimidação e violência, conforme relatado por Shahid em uma conferência sobre liberdade religiosa. Embora a maioria da população muçulmana seja moderada, um pequeno grupo de extremistas utiliza a lei da blasfêmia como arma contra minorias religiosas, resultando em ataques devastadores. “Uma falsa acusação pode desencadear a violência, afetando não apenas o acusado, mas toda a comunidade cristã”, ressalta o professor.
A lei da blasfêmia no Paquistão é uma das questões mais controversas, pois permite abusos que muitas vezes incendiariam bairros inteiros com base em denúncias infundadas. Esses ataques coletivos não são apenas direcionados a indivíduos, mas envolvem a comunidade como um todo, sublinhando a vulnerabilidade dos cristãos no contexto sócio-religioso paquistanês.
Qual o papel da religião no Paquistão
No Paquistão, a religião desempenha um papel central na narrativa pública e na legitimação do poder, especialmente sob a liderança do chefe das Forças Armadas, Asim Munir. Recentemente, o parlamento concedeu a Munir poderes extraordinários, incluindo imunidades vitalícias e controle sobre a nova Corte Constitucional, o que levanta preocupações sobre a fragilidade da democracia no país.
A noção de que o Paquistão é um estado islâmico se consolidou apenas a partir de 1973, após uma série de reformas religiosas. Inicialmente fundado como um estado laico, as mudanças de Bhutto e Zia-ul-Haq impuseram um uso político da religião que ainda repercute na vida cotidiana e nas relações internacionais do país, acentuando as tensões com os vizinhos India e Afeganistão.
O recente conflito armado com a Índia
O recente confronto armado com a Índia, que se intensificou após a apropriação da Caxemira pelo primeiro-ministro Narendra Modi, também serve como um elemento de legitimação do poder militar no Paquistão. Munir se apresentou como um protetor nacionalista em um momento de tensão elevada, destacando a necessidade de unidade contra um possível ataque externo, dado o histórico de conflito entre os dois países desde 1947.
A escassez de intervenções eficazes da comunidade internacional, particularmente dos Estados Unidos, tem deixado a possibilidade de um confronto direto entre potências nucleares elevada, ressaltando a precariedade da segurança na região. O recente título de Marechal de Campo conferido a Munir, após vitórias em combates com a Índia, solidifica a estrutura militar, mas também levanta questões sobre o futuro da governança democrática no Paquistão.
Cabul, a outra frente de Islamabad
Além da proximidade hostil com a Índia, o Paquistão enfrenta desafios com o Afeganistão. Em resposta a uma onda de atentados atribuídos aos talibãs, Islamabad realizou ações militares em território afegão, exacerbando as tensões e levando a uma reação militar de Cabul. A situação é ainda mais complexa, pois envolveu um contexto mais amplo que toca na segurança nacional e nos interesses regionais do Paquistão.
Após uma breve trégua mediada pelo Catar, as relações entre os dois países continuam conturbadas. A proximidade entre o Afeganistão e a Índia é vista como uma ameaça à influência paquistanesa na região e reforça a necessidade de uma postura proativa para garantir a segurança nacional.
Com duas crises armadas em um intervalo de apenas cinco meses, o Paquistão, uma potência nuclear e o quinto país mais populoso do mundo, enfrenta um futuro incerto, tanto no âmbito interno quanto nas relações com seus vizinhos. O desafio será encontrar um equilíbrio entre a política interna e as relações externas em uma região tão volátil.
A situação dos cristãos no Paquistão é, sem dúvida, uma parte dessas complexidades, exigindo atenção contínua e esforços conjuntos para promover a liberdade religiosa e a convivência pacífica entre as diversas comunidades religiosas no país.

