Recentemente, a editora Carpintaria lançou “Viva a poesia!”, uma compilação de escritos do papa Francisco que explora a interseção entre literatura e espiritualidade. Com organização e introdução do padre Antonio Spadaro, o livro se destaca como um convite à reflexão sobre o papel da palavra na formação da fé cristã.
A importância da palavra na espiritualidade cristã
A frase “No princípio, era a Palavra” (Jo 1, 1) dá início a uma profunda reflexão sobre a importância da palavra na fé cristã. Para os cristãos, a “Palavra” é um nome divino que se refere ao Filho de Deus e destaca o desejo de Deus de dialogar com sua criação. A literatura, portanto, não deve ser considerada um assunto secundário dentro da espiritualidade cristã. Historicamente, teólogos e pensadores como Paulo de Tarso e Basílio de Cesareia reconheceram o valor da literatura na formação da alma cristã, destacando os benefícios do contato com textos que, embora pagãos, enriquecem a visão espiritual.
A delicadeza da relação entre fé e literatura pode ser observada em diversos momentos da história da Igreja. Nos últimos anos, particularmente sob o papado de Francisco, a literatura se tornou um tema recorrente. O papa argentino, que teve experiências como professor de literatura, frequentemente se referiu a grandes obras literárias em seus documentos pontifícios, mostrando como a arte da palavra se entrelaça ao ensino da Igreja.
Legado do papa Francisco e a literatura
O papa Francisco, em seus escritos, chamou a atenção para a necessidade de expressar verdades eternas em uma linguagem que esteja em sintonia com as mudanças culturais. “A missão eclesial soube desdobrar toda a sua beleza no encontro com as diversas culturas, muitas vezes graças à literatura”, escreveu ele em uma de suas cartas. Essa afirmação evidencia a relevância da literatura na construção de um diálogo aberto e inclusivo na Igreja, evitando a tentação de um fundamentalismo que limita a experiência da fé.
Literatura como um reflexo da vida
A literatura, segundo o papa, é um meio de acessar a profundidade das realidades humanas e divinas. Francisco acredita que na produção poética de um povo se pode escutar o eco da divindade que habita a história e a cultura. Ele cita diversos artistas brasileiros, como Adélia Prado e Milton Nascimento, como exemplos da potência da palavra poética; expressões que refletem a espiritualidade de um povo e a complexidade da experiência humana.
O livro “Viva a poesia!” reúne doze textos de Francisco, onde o que estava implícito em sua abordagem já se torna explícito: a dedicação à palavra como um recurso para entender a verdadeira essência do ser humano. Antonio Spadaro, que organizou a obra, assinala a importância de reconhecer a influência de poetas e escritores no desenvolvimento do pensamento do papa, mostrando que a literatura é uma parte vital da sua visão teológica.
Convite à reflexão e à leitura
A publicação de “Viva a poesia!” não é apenas uma oferta literária, mas um convite para que os leitores se aproximem do legado do papa Francisco e se aprofundem nos grandes clássicos da literatura. Nos textos do papa, encontramos não apenas um reflexo da sua espiritualidade, mas um verdadeiro diálogo com o universo literário que nos cerca. Esta relação promove um exercício de escuta, onde os leitores são convidados a perceber as “sementes da Palavra” semeadas pelo Espírito Santo na narrativa humana.
O livro está disponível em versões física e digital e pode ser adquirido pela Amazon. É uma obra que promete enriquecer a compreensão da relação entre a literatura e a espiritualidade, oferecendo substrato para uma reflexão profunda sobre o papel da palavra na formação da fé.
Em suma, “Viva a poesia!” é uma homenagem ao poder da literatura de transformar e iluminar a experiência de fé. Ao refletir sobre as palavras do papa Francisco, somos convidados a ouvir não apenas as vozes do passado, mas também os ecos presentes da arte e da poesia que moldam nosso entendimento espiritual.
*Felipe Sérgio Koller, doutor em teologia, professor e editor da versão brasileira de “Viva a poesia!” pela editora Carpintaria.


