Embora estejam na linha de frente da resposta à crise climática, as mulheres continuam com acesso limitado ao financiamento climático global, segundo dados recentes. De acordo com a ONU Mulheres, apenas 0,01% do financiamento mundial destinado ao clima apoia projetos que abordam tanto os direitos das mulheres quanto os impactos ambientais.
Desigualdade no acesso ao financiamento climático
Estudos apontam que, entre 2019 e 2020, somente 2% dos fluxos de recursos globais para o clima foram classificados como “gender-responsive”, ou seja, com perspectiva de gênero. Essa disparidade revela uma contradição entre o discurso e a prática, já que as mulheres, apesar de participarem ativamente das ações de adaptação, permanecem à margem dos recursos formulados para soluções climáticas.
Mulheres na adaptação: ações que passam despercebidas
Na prática, elas desempenham papéis essenciais na preservação de sementes crioulas, recuperação de solos e manejo de ecossistemas frágeis. Essas estratégias de adaptação climática, embora altamente eficazes e próximas às comunidades, raramente recebem apoio financeiro, o que compromete sua escalabilidade e reconhecimento.
Despesa burocrática e obstáculos acessíveis
Relatos de lideranças indígenas, como Bekoe Tupinambá, mostram que mulheres que atuam em seus territórios enfrentam dificuldades para acessar os recursos, em razão de burocracias e editais inacessíveis. No semiárido brasileiro, por exemplo, agricultores que usam a Caderneta Agroecológica e movimentos locais vêm criando soluções autônomas de adaptação, mas esses esforços permanecem fora do radar dos financiamentos tradicionais.
Necessidade de mudança de critérios e estratégias
Reformar os critérios, canais e prioridades do financiamento climático é urgente. Segundo o relatório da Climate Finance Lab, apenas 22% das operações analisadas de blended finance — estratégia que combina recursos públicos e privados — incorporam alguma perspectiva de gênero. Sem essa mudança, as ações de adaptação e mitigação continuam a ignorar grande parte da população mais vulnerável, aprofundando desigualdades.
Impactos futuros e a urgência de inclusão
Dados da ONU Mulheres apontam que, até 2050, as mudanças climáticas podem empurrar cerca de 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza. Quanto mais se adiam políticas de inclusão financeira, maior é o risco de aprofundar as desigualdades e prejudicar os esforços globais de enfrentamento ao clima.
Assim, questionar “onde estão as mulheres” no financiamento climático não é retórica, mas uma questão de urgência. Uma inclusão real, que vá além do simbólico, é fundamental para uma resposta eficaz, justa e sustentável à crise climática.
Para avançar, é necessário repensar os mecanismos de distribuição de recursos, promovendo maior acessibilidade e representatividade, especialmente para quem atua nas comunidades mais vulneráveis e no território. Essas ações podem transformar a resposta climática em uma oportunidade de promover justiça social e ambiental ao mesmo tempo.

