Na última quinta-feira (13/11), um momento de tensão marcou a sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. O deputado federal Marcel van Hattem, do Novo-RS, perdeu a compostura e gritou com a senadora Soraya Thronicke, do Podemos-MS, após a parlamentar ultrapassar o tempo de fala estipulado. O incidente se deu durante a oitiva de Eric Fidelis, advogado e filho do ex-diretor do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), André Fidelis, que foi preso sob suspeita de envolvimento em fraudes.
Polarização no ambiente político
A discussão acalorada entre van Hattem e Thronicke ocorreu no contexto de polêmicas em torno de advogados que defendem os presos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Ao usar seu tempo de fala, Thronicke abordou críticas que recebeu após sugerir a investigação desses advogados, o que inflamou os ânimos de membros da oposição. A senadora já havia expressado suas preocupações sobre o papel de advogados que defendem o que ela chamou de “patriotas”.
O presidente da CPMI, Carlos Viana, do Podemos-MG, fez várias tentativas de restaurar a ordem, pedindo para que Thronicke finalizasse sua fala. Contudo, a senadora, frustrada, respondeu: “poxa, já vi tanta gente ter tanto tempo”. As palavras dela não agradaram van Hattem, que bradou: “ela vai ficar aqui para defender vagabundo ou investigar? Tá defendendo vagabundo e a gente está querendo investigar”. A resposta da senadora foi direta: “estou defendendo patriota”.
Contexto das discussões sobre o INSS
O clima tenso na CPMI reflete um cenário de polarização política exacerbada nas últimas meses, especialmente em relação a questões envolvendo o INSS e casos de corrupção. O escândalo do INSS, que vem sendo investigado, foi revelado por reportagens do Metrópoles, destacando fraudes relacionadas a mensalidades cobradas de aposentados. Apenas três meses após sua revelação, a PF abriu inquérito com base nas denúncias, levando a demissões de altos funcionários do INSS.
Investigações em destaque
As investigações iniciadas a partir das matérias do Metrópoles trouxeram à tona um complexo esquema de fraudes que, segundo dados, resultou em uma arrecadação exorbitante de R$ 2 bilhões em um único ano. Os desdobramentos levaram à Operação Sem Desconto, em abril deste ano, e à pressão crescente por uma reforma no sistema previdenciário.
Dessa forma, as tensões durante as sessões da CPMI refletem não apenas disputas partidárias, mas também uma luta mais ampla pela transparência e accountability em um sistema que, segundo críticos, tem sido alvo de manipulações e irregularidades há anos.
Ética na política e defesa de valores
O embate entre os dois parlamentares levanta questões importantes sobre a ética na política, principalmente em um momento onde muitos se sentem inseguros sobre o futuro do país. As reações da senadora e do deputado mostram como temas sensíveis, como defesa dos direitos dos acusados e sugestões de intervenções legais, podem provocar reações extremas e polarizar ainda mais a já conturbada atmosfera política.
É imperativo que o debate político, especialmente em um órgão como a CPMI, se mantenha dentro de parâmetros de civilidade e respeito mútuo, mesmo diante de profundas divergências. A sociedade brasileira anseia por soluções efetivas e, acima de tudo, por responsabilidade e transparência nas ações dos representantes.
Como a situação evoluirá nas próximas sessões da CPMI é um mistério, mas a expectativa é que os parlamentares possam focar na resolução dos problemas do INSS, ao invés de se perderem em disputas pessoais e ideológicas.
O que se esperava ser uma audiência para investigar crimes e buscar soluções para o INSS se transformou em um espetáculo de desentendimentos, ilustrando a fragilidade do diálogo na política contemporânea brasileira.

