Na última quarta-feira (12/11), a Justiça do Rio de Janeiro decidiu manter o julgamento de dois contraventores acusados do assassinato de Alcebíades Paes Garcia, conhecido como Bid. Bernardo Bello, líder do jogo do bicho na cidade, e Wagner Dantas Alegre, ex-policial militar e braço direito de Bello, enfrentarão o Tribunal do Júri após a rejeição unânime dos pedidos de defesa para anular o processo.
Contexto do crime organizado no Rio de Janeiro
O assassinato de Bid, conforme apurado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), ocorreu em um contexto de acirrada disputa territorial na zona sul carioca, tradicionalmente dominada por jogos de azar e máquinas caça-níqueis. As implicações do crime se estendem não apenas a uma disputa pessoal, mas ao intrincado e muitas vezes violento universo do jogo do bicho, que se desdobrou em rivalidades familiares e cartéis do crime organizado.
No detalhamento da denúncia, o MPRJ afirma que Bernardo Bello foi o mentor operacional do assassinato, ordenando e coordenando as ações executadas por seu comparsa Wagner Alegre, que, segundo relatos, foi quem disparou contra Bid. O caso ganha contornos ainda mais dramáticos pela condição de ambos estarem foragidos da Justiça, evidenciando a crescente violência envolvida nas guerras territoriais entre os jogos ilegais na cidade.
O assassinato de Bid e seus desdobramentos
O crime que levou à morte de Bid aconteceu durante o Carnaval de 2020, um período festivo que, ao invés de alegria, culminou em tragédia para muitos. Ele foi assassinado na Barra da Tijuca enquanto retornava do desfile das escolas de samba. Ademais, sua morte não foi um ato isolado; envolveu a participação de seguranças do próprio bicheiro, que foram acusados de fornecer informações cruciais para a execução do homicídio. Essas figuras foram igualmente denunciadas, mostrando que a teia do crime foi ainda mais ampla e bem articulada do que inicialmente se imaginava.
As raízes familiares e a luta pelo poder no jogo do bicho
Alcebíades Paes Garcia era irmão de Waldomiro Paes Garcia, conhecido como Maninho, um dos mais influentes contraventores do jogo do bicho no Rio, que faleceu em 1999. A morte de Maninho desencadeou uma série de disputas familiares e de poder, acentuando rivalidades interiores e promovendo uma guerra silenciosa pelo controle dos negócios ilícitos que o jogo do bicho representa.
Além de sua conexão familiar com figuras notórias do submundo carioca, Bernardo Bello também tem um histórico pessoal significativo, uma vez que foi casado com Tamara Garcia, filha de Maninho, ligando ainda mais sua história e suas ações ao tumultuado legado familiar e às complexas dinâmicas do crime na região.
A pressão da Justiça e o clamor popular
A decisão do Tribunal ao manter o julgamento de Bello e Alegre representa um passo importante na luta contra a impunidade no episódio violento que se desdobra nas ruas do Rio. O clamor popular para que a Justiça atue de forma mais firme contra os responsáveis pelas atividades ilícitas do jogo do bicho e suas consequências, é uma voz crescente na sociedade brasileira. O caso Bid é um reflexo da corrupção e violência que permeiam o cenário dos jogos de azar, e a expectativa é que o desfecho do julgamento possa trazer não apenas justiça, mas também uma nova perspectiva sobre os limites da lei e do crime organizado no Brasil.
O desfecho desse caso, que captura a atenção da sociedade e das autoridades, será um teste ao funcionamento das instituições brasileiras e sua capacidade de enfrentar e vencer o desafio do crime organizado, especialmente em um contexto marcado por longas histórias de corrupção e traição entre figuras notórias.
Com o avanço dos processos, a esperança é de que a Justiça prevaleça e que a luta contra a impunidade e a criminalidade estrutural, que há décadas assola o Rio, ganhe força e se amplie em ações concretas e eficazes.


