Os bispos dos Estados Unidos participaram de uma reunião em Baltimore nesta semana para discutir o uso da inteligência artificial (IA) na Igreja Católica, considerando tanto seus benefícios quanto seus riscos. A sessão contou com a presença de Paul Scherz, professor de teologia na Universidade de Notre Dame, que apresentou suas análises éticas sobre a tecnologia.
Potencial e limites da inteligência artificial na Igreja
Scherz explicou que a IA possui grande potencial para promover o bem comum e contribuir para o florescimento humano, porém, alertou que esses sistemas não são realmente “inteligentes” como os humanos, pois carecem de consciência e expressão de relacionamentos subjetivos. Segundo ele, somos feitos à imagem de Deus, que é um relacionamento trino, e a tecnologia não pode substituir essa dimensão.
“Apesar de sua utilidade e poder, a IA não deve ser considerada uma pessoa ou inteligência verdadeira”, afirmou Scherz, destacando a importância de reconhecer a natureza essencialmente relacional do ser humano e o valor do contato pessoal na fé.
Aplicações da IA nas missões católicas
Scherz destacou três áreas principais em que a inteligência artificial pode ser aplicada na Igreja, ressaltando tanto os benefícios quanto os riscos.
Cuidados na saúde
Ele afirmou que a assistência médica é a maior área de atuação da IA na Igreja, dado que 17% dos pacientes nos EUA recebem cuidados em instituições católicas. Essas instituições, segundo Scherz, desempenham um papel vital no cumprimento do chamado de Jesus para curar os doentes.
Entretanto, ele alertou para o perigo dos vieses nos dados de treinamento da IA, que podem reforçar desigualdades, como o foco em populações de classe média de descendência europeia. Além disso, a tecnologia não substitui o contato humano, como palavras de conforto ou gestos de proximidade, essenciais na atenção pastoral.
Educação nas escolas católicas
A educação é outra área fortemente impactada pela IA, especialmente na personalização do ensino, permitindo planos de aprendizagem adaptados a cada estudante. Porém, Scherz destacou que o papel do professor vai além da transmissão de conhecimentos e envolve modelar virtudes e inspirar descoberta.
Ele citou uma preocupação: o uso indevido de IA por estudantes para completar tarefas acadêmicas, o que pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de argumentação dos alunos.
Ministério pastoral e espiritualidade
Scherz abordou também o uso crescente de IA na área espiritual, com a criação de chatbots que inspiram respostas religiosas, i.e., retratando Deus ou figuras religiosas. Essa prática, embora possa facilitar acesso ao ensinamento da Igreja, traz riscos como o uso indevido, dependência e a possibilidade de mais isolamento na experiência de fé.
Ele advertiu que o uso de IA na preparação de homilias ou materiais espirituais por parte de padres deve ser feito com cautela, pois a autenticidade do testemunho do pastor é fundamental e não pode ser totalmente automatizada.
Desafios éticos e oportunidades evangelizadoras
Scherz concluiu destacando que a tecnologia oferece oportunidades evangelizadoras, permitindo que a Igreja responda às perguntas sobre o que significa ser humano em uma era de avanços tecnológicos. No entanto, reforçou a necessidade de um uso ético e refletido da IA, de modo a evitar injustiças, alienação e deformação do caráter.
Segundo ele, a inteligência artificial pode ajudar a aprofundar a compreensão sobre o humano e fortalecer o testemunho cristão, especialmente ao oferecer respostas a questionamentos fundamentais sobre a existência e a dignidade humana.
“A Igreja tem uma oportunidade evangelizadora única neste momento de transformação tecnológica, e é fundamental que ela seja protagonista na formação ética do uso da IA”, afirmou Scherz.



