Um potencial trabalho de voz com um pagamento elevado para anúncios políticos relacionados ao ICE (Immigration and Customs Enforcement) chamou a atenção de Joe Guay, ator de voiceover, que avalia os riscos e implicações de aceitar tais convites.
O convite tentador e a dura revelação
Guay recebeu, durante uma tarde, uma oportunidade de fazer um teste para um grande projeto publicitário, com um orçamento significativamente acima da média para spots de rádio e TV. No entanto, ao abrir o roteiro, deparou-se com uma campanha que promovia a adesão ao ICE por meio de uma abordagem altamente questionável e polêmica.
O script estimulava policiais a deixarem seus empregos para se juntarem ao ICE, sem supervisão, com incentivos financeiros de até cinquenta mil dólares, além de benefícios. A mensagem enfatizava uma narrativa de combate ao crime, mas carregava um subtexto de impunidade e violência sem controle, incentivando oficiais a agirem de forma discriminatória e violenta.
Implicações éticas e sociais
Guay destaca a problematização do conteúdo, especialmente ao notar que o anúncio sugere que o policial pode agir sem limitar-se pela Constituição ou protocolos tradicionais, promovendo uma cultura de impunidade e violência. Ele acredita que o discurso direciona a promover uma espécie de ‘justiça’ por meio do medo e do abuso de autoridade.
A preocupação principal do ator é que esse tipo de publicidade reforça uma narrativa perigosa e potencialmente criminosa, voltada a oficiais que já podem ter problemas com autoridade, e alimenta um ambiente de intimidação e opressão.
Contexto político e financeiro por trás das campanhas
O alto valor oferecido para esses trabalhos está ligado ao financiamento de mais de 170 bilhões de dólares concedidos pelo Congresso, por meio do “big, beautiful bill”, aprovado no começo do ano, que destina recursos para ações de deportação, muitas vezes contra migrantes que não representam risco criminal.
Segundo o Brennan Center for Justice, grande parte desse dinheiro é usada para operações de deportação de imigrantes trabalhadores e contribuidores, criando uma ‘indústria’ de expulsões que contrasta com a escassez de recursos para áreas como educação, saúde e infraestrutura.
Ponderações morais de um artista
Guay expressa seu desconforto em participar de campanhas que podem incitar à violência institucionalizada e à violação de direitos humanos. Ele reflete sobre o paradoxo de receber um pagamento milionário por uma mensagem que contraria seus valores e princípios éticos.
Para ele, aceitar esses trabalhos representa um dilema, pois a remuneração é atraente, mas os efeitos sociais e morais são preocupantes. “É uma decisão difícil entre o sustento e a integridade,” afirma.
Impactos e futuro na indústria do voiceover
O episódio levanta discusses sobre o papel ético dos profissionais de voz em uma sociedade carregada de polarizações e conflitos. Enquanto alguns podem aceitar a oferta por necessidade financeira, outros optam por recusar campanhas de impacto negativo, fortalecendo uma postura de resistência ao uso de sua arte para promover mensagens que defendem o autoritarismo ou violam direitos civis.
Guay conclui alertando que, independentemente do valor financeiro, é preciso estar atento às implicações sociais e morais ao aceitar ou rejeitar certos trabalhos, especialmente aqueles que envolvem discursos de divisão ou repressão.
 
 
 
 

