Nos últimos anos, as embalagens de chocolates têm passado despercebidas por mudanças na descrição de seus ingredientes, com marcas como Mr. Goodbar, Almond Joy e Rolos substituindo o termo “chocolate ao leite” por “doce de chocolate”. Essas alterações indicam reformulações na composição, motivadas por fatores econômicos e ambientais, e o impacto do aquecimento global na produção de cacau.
Desde as embalagens até a receita: o que mudou na composição do chocolate
Especialistas afirmam que as altas nos preços do cacau, em decorrência de secas prolongadas, temperaturas extremas e doenças nas plantações, levaram a uma onda de reformulações por parte das fabricantes de doces. Para contornar o aumento de custos, algumas substituem manteiga de cacau por gorduras vegetais, o que faz com que seus produtos deixem de atender à definição regulatória de chocolate ao leite nos Estados Unidos.
Impacto das mudanças climáticas na produção de cacau
A produção de cacau na África Ocidental, principal região do mundo, vem sendo afetada por secas mais longas, temperaturas que ultrapassam o normal e pragas transmitidas por cochonilhas. Segundo estudos do Climate Central, o calor extremo aumentou em seis semanas por ano na última década, reduzindo a produtividade das lavouras e elevando os preços do cacau, que atingiram mais de US$ 10 mil por tonelada em 2025, quatro vezes o valor de 2022.
Para reduzir custos, fabricantes substituem manteiga de cacau por ingredientes mais baratos, como gorduras vegetais, além de ajustar a quantidade de açúcar nas receitas. A Hershey, por exemplo, reconheceu que algumas mudanças ocorreram sem impacto direto no consumidor, mas há indícios de ajustes mais sutis.
Economia e inovação: o que as empresas estão fazendo
A Nestlé, que conseguiu economizar mais de US$ 500 milhões em receitas readequadas, revelou que grande parte da economia vem de simplificar processos internos. Por outro lado, empresas como a Cargill têm investido milhões em tecnologias para produzir coberturas e recheios com menos cacau ou substitutos, visando atender às demandas do mercado global frente à escassez de matéria-prima.
Sinais de uma indústria em transformação
Quem acompanha de perto a indústria de doces percebe que as mudanças vão além do sabor: o uso de ingredientes substitutos, embalagens menores e novas formulações de produtos acessíveis são estratégias para manter o mercado em meio à crise climática e à alta dos preços. De acordo com especialistas, muitos consumidores raramente percebem esses truques, enquanto cientistas de alimentos treinados trabalham para que as reformulações fiquem invisíveis ao paladar.
O impacto das mudanças climáticas, combinadas com questões econômicas, deve se consolidar nos próximos anos, tornando a produção de chocolates de alta qualidade cada vez mais diferenciada e custosa. Ainda assim, a demanda por doces continua crescendo, exigindo inovação contínua da indústria.
Para entender melhor essas transformações, leia mais sobre o que o cacau ‘premium’ da Bahia tem para virar o chocolate que encantou a rainha Elizabeth II e o cacau do Rio quer ganhar espaço no mercado premium.
 
 
 
 

