Brasil, 31 de outubro de 2025
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Como um novo filme do Drácula virou ponto central na discussão sobre IA no cinema

Filme de Radu Jude usa IA para criar imagens perturbadoras, despertando debates éticos e artísticos na indústria cinematográfica

O aclamado cineasta romeno Radu Jude apresenta seu mais recente filme, *Drácula*, uma obra de 170 minutos que utiliza inteligência artificial para a criação de cenas visivelmente perturbadoras. Estreado no Festival de Locarno em agosto, a produção gerou debates sobre o uso da IA no cinema, tanto por sua inovação quanto por suas implicações éticas e artísticas.

O papel da IA na concepção visual de *Drácula*

Ao longo do filme, imagens de corpos mutilados, vampiros e criaturas assustadoras são resultado de um esforço aliado à tecnologia de inteligência artificial. Jude explica que o uso da IA foi uma estratégia para contornar limitações orçamentárias, permitindo a realização de cenas que, de outra forma, seriam inviáveis para um filme regional.

“A IA serviu como uma ferramenta acessível, uma forma de transformar limitações em vantagens criativas”, afirma Jude em entrevista à TIME. Ele trabalhou com Vlaicu Golcea, músico e usuário amador de IA, numa abordagem artesanal e experimental, que reforça o caráter revoltado e autêntico da obra.

Debate global sobre IA no cinema e a liberdade de criadores

Enquanto Jude vê a IA como uma ferramenta acessível, figuras como Kevin O’Leary, James Cameron e plataformas como a Netflix discutem a tecnologia como um meio de reduzir custos e acelerar produções, às vezes às custas da arte e do desenvolvimento criativo. Jude, que atua em um mercado menor, ressalta que o impacto do uso de IA na sua indústria é menor devido à quantidade de recursos limitados disponíveis.

“Para nós, a IA foi uma opção econômica. Não trabalhamos com especialistas, apenas com alguém que experimentava por diversão”, explica Jude. Essa abordagem artesanal contrasta com a postura mais comercial de Hollywood, onde a tecnologia muitas vezes é vista como uma oportunidade de economizar e escalar a produção.

Enredo e estética de *Drácula*

O filme acompanha um diretor fictício, Adonis Tanța, que decide usar uma aplicação de IA para criar seu filme. As conversas entre ele e a IA, interpretada pelo próprio Jude, abordam críticas sociais, referências culturais e experimentações visuais.

Entre as cenas, destacam-se uma adaptação do romance *Just So* de Nicolae Velea, imagens de *Nosferatu* atualizado com propaganda turística, e um episódio onde o vilão vampírico convoca soldados mortos na greve de 1933 para lutar contra trabalhadores de uma indústria de jogos eletrônicos. Jude também insere personagens que planejam fugir de seus trabalhos opressivos num teatro temático de Drácula, ressaltando o tom crítico da obra.

Implicações éticas e o futuro da IA na arte

Jude assume uma postura de aceitação pragmática: embora reconheça as limitações dos recursos, ele valoriza a criatividade que a IA permite e admite sua inevitabilidade. “O limite pode virar uma vantagem. A história do cinema está cheia de exemplos de invenções surgidas por necessidade”, destaca.

Por outro lado, Jude não endossa o uso irrestrito da tecnologia. O filme apresenta imagens visuais e temáticas perturbadoras — inclusive referências a experimentos humanos durante a Segunda Guerra Mundial — que reforçam a necessidade de uma reflexão ética sobre a propagação da IA na produção artística.

Perspectivas e desafios futuros

Seja como ferramenta de inovação ou de redução de custos, o impacto da IA no cinema ainda está em fase de discussão e experimentação. Jude acredita que a tecnologia veio para ficar, mas ressalta a importância de um debate ético e criativo para garantir que ela seja usada de forma responsável.

“A questão não é se a IA vai desaparecer, mas como podemos usá-la de maneira consciente e artística”, conclui Jude. Sua obra demonstra que, independentemente das ferramentas, o olhar crítico e a liberdade criativa continuam sendo essenciais na produção cinematográfica.

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