No último dia 28 de outubro, uma megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão no Rio de Janeiro resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais, e gerou intenso debate nas redes sociais. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que, entre a terça-feira e a quarta-feira seguintes à operação, foram contabilizadas 1,92 milhão de postagens sobre o tema em plataformas digitais, resultando em mais de 60 milhões de interações. Esses números evidenciam não apenas a magnitude da ação, mas também a relevância da questão segurança pública no Brasil contemporâneo.
Impacto e engajamento nas redes sociais
A operação, que contou com a mobilização de 2,5 mil agentes e provocou confrontos intensos nas comunidades, resultou em um aumento significativo nas buscas sobre o Rio de Janeiro no Google, totalizando mais de 500 mil pesquisas em apenas 24 horas. O estudo da FGV identificou que a discussão ultrapassou o espaço político, atingindo também públicos de entretenimento, com cinco dos dez posts mais engajados no Instagram originados de páginas desse segmento.
O levantamento observou que os debates se dividiram entre críticas ao governador Cláudio Castro, acusado de politizar a operação, e defesas da ação, que clamavam por uma postura mais firme por parte do governo federal em relação à violência no estado. Essa polarização expõe um cenário delicado e tenso, onde as questões de segurança pública são constantemente politizadas.
Comparações com a guerra em Gaza
Entre os temas que ganharam destaque, o estudo da FGV evidenciou postagens que iniciaram comparações entre a situação do Rio de Janeiro e a guerra entre Israel e Hamas, na Faixa de Gaza. Alguns usuários sugeriram que as autoridades adotassem estratégias de combate semelhantes às do Exército de Israel, levantando não apenas a relevância da questão, mas também questões éticas sobre as abordagens de segurança e repressão.
Por outro lado, críticos do governo federal, especialmente opositores a Castro, incriminaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resgatando declarações passadas em que ele afirmava que “traficantes são vítimas de usuários”. Esses discursos começaram a formar uma onda de politização, reconfigurando a narrativa de “guerra contra o crime”, que por sua vez ganhou proeminência após a perda de destaque em outras áreas, como economia e nacionalismo.
Figuras políticas em evidência
Conforme apurado pela FGV, o governador Cláudio Castro foi a figura política mais mencionada em relação à operação, predominando o tom negativo nas discussões. Isso não impediu que apoiadores da direita elogiassem sua postura firme com as forças de segurança. O presidente Lula também se destacou, sendo alvo das críticas que acusavam sua gestão de omissão em relação ao apoio solicitado pelo estado no enfrentamento da criminalidade.
A disputa por narrativas
A FGV ainda relatou uma forte disputa nas redes sociais sobre quem deveria ser responsabilizado pelos resultados da operação. Aliados de Castro argumentaram que o governo federal teria se negado a fornecer apoio logístico, enquanto críticos do governador o acusaram de usar a tragédia para promover sua agenda política, denunciando sua abordagem ineficaz à segurança pública.
As opiniões divergentes também se espalharam por aplicativos de mensagens, onde circulavam vídeos e textos que reforçavam a narrativa de Castro sobre a “falta de apoio federal”, em contrapartida a outros que apontavam a viagem de Lula à Malásia como um sinal de desinteresse pela crise no Rio.
Um desfecho trágico
A Operação Contenção, a mais letal da história do Rio de Janeiro, terminou com 121 mortos, 113 detidos e a apreensão de mais de 90 fuzis. O cerco realizado pelas forças de segurança tinha como objetivo conter a expansão territorial do Comando Vermelho, facção criminosa que domina as comunidades em questão. Entretanto, organizações civis e moradores relataram episódios de execuções e excessos durante a operação, levantando sérias preocupações sobre os métodos utilizados pelas autoridades.
Essa tragédia não apenas destaca a complexidade do problema da segurança pública no Brasil, mas também instiga um debate mais amplo sobre as políticas vigentes e a necessidade de abordagens eficazes e humanizadas para enfrentar a criminalidade de maneira sustentável e responsável.
A solidão dos moradores e a impunidade em casos de violência e violações de direitos humanos precisam ser constantemente discutidas. O desafio de equilibrar segurança e direitos humanos permanece um ponto crucial na sociedade brasileira contemporânea.


