O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está modulando sua reação após a megaoperação policial que desencadeou um trágico resultado com 121 mortos no Rio de Janeiro, incluindo quatro policiais. Em um contexto delicado e estratégico, Lula tenta fortalecer a parceria com o governador Cláudio Castro para dar respaldo à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, que é a principal iniciativa do governo federal na área de segurança pública.
Governo descarta GLO para segurança pública
Em meio a essa situação tensa, o governo federal decidiu, pelo menos por enquanto, não adotar o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que transferiria o controle da segurança pública para a União. Essa escolha se deve ao receio de eventuais desgastes políticos que poderiam refletir na popularidade de Lula, especialmente com as eleições se aproximando. A medida é vista como um risco potencial, causando insatisfação e, consequentemente, uma leve diminuição na aprovação do governo.
Opinião pública e apoio à operação policial
Pesquisas divulgadas pela colunista Vera Magalhães, do GLOBO, revelam que a maioria da população apoia a operação policial realizada. No seu primeiro pronunciamento público após o episódio trágico, Lula reafirmou a importância de combater as facções criminosas e não teceu críticas ao governador Cláudio Castro, evitando também abordar a questão das mortes de inocentes, que estão sob investigação. Essa postura reflete uma estratégia cautelosa em um momento de tensão social.
Declarações de Lula
Lula se manifestou de maneira contundente em suas redes sociais, afirmando: “Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco.” Essas palavras buscam destacar um compromisso com a segurança e a interação entre as forças policiais no estado.
Escritório de Combate ao Crime Organizado
Em uma reunião entre Lula e governador Cláudio Castro, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou a criação de um Escritório de Combate ao Crime Organizado. O objetivo é “eliminar barreiras” entre os governos federal e estadual. Este grupo será liderado pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Santos, e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Mário Luiz Sarrubbo, marcando um esforço conjunto entre os governos para combater o crime organizado de forma mais eficiente e integrada.
Condições para um federalismo cooperativo
O projeto anunciado por Lewandowski representa uma tentativa de estreitar as relações entre os dois níveis de governo, sendo visto como o embrião de um modelo de federalismo cooperativo em segurança pública. “A conjugação de esforços entre a União e o Estado do Rio que se pretende com o Escritório Emergencial de Combate ao Crime Organizado é o embrião da cooperação federativa que se almeja a partir da PEC da Segurança Pública”, disse Lewandowski ao GLOBO.
A Proposta de Emenda à Constituição da Segurança
A PEC da Segurança é a principal proposta do governo Lula para enfrentar a crise de segurança pública no Brasil. Em tramitação na Câmara dos Deputados desde abril, o texto sugere alterações em cinco artigos da Constituição, aumentando o papel da União na criação de diretrizes de políticas de segurança pública dos estados. Com o apoio do presidente da Câmara, Hugo Motta, Lewandowski está articulando para que a votação da proposta seja acelerada, com o relator do texto, Mendonça Filho, prometendo a entrega do relatório até o final do próximo mês.
Tom conciliatório entre os governos federal e estadual
Durante a visita ao Rio, Lewandowski adotou um tom conciliatório, evitando críticas a Castro, especialmente após desavenças recentes entre os governos federal e estadual, onde o governador reclamou de estar “sozinho” no combate à violência. Em suas falas, Lewandowski minimizou as divergências e reestabeleceu o diálogo: “Nós vivemos em federalismo cooperativo. O problema de uma unidade federal é um problema de todos os estados membros.”
Assim, enquanto o governo federal tenta estabelecer um ambiente de colaboração, o estado do Rio se vê pressionado a lidar com uma situação de segurança pública deteriorada e uma população ansiosa por respostas efetivas.



