Entre as movimentadas ruas de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, histórias intrigantes se entrelaçam ao cotidiano da cidade. As lendas urbanas, que misturam elementos do imaginário popular e do folclore local, permanecem vivas nas conversas e lembranças dos moradores. Neste artigo, exploraremos algumas das mais conhecidos mistérios e fantasmas que assombram a cidade.
A lenda do fantasma da Rua João Penteado
A Rua João Penteado, localizada no Jardim Sumaré, é famosa por abrigar a narrativa do fantasma de um menino loiro. Segundo relatos, quem passa por lá, especialmente ao entardecer, pode sentir uma presença inexplicável. O garoto, vestido com roupas do passado — incluindo calções e suspensórios — teria encontrado um trágico fim nos anos 1960, ao cair de uma pedreira que existia nas proximidades.
O historiador Felipe Gonçalves de Souza comenta que a lenda é perpetuada pelas gerações. “As pessoas contam que ao andar pela João Penteado, às vezes avistam o menino, mas quando olham de novo, ele desaparece”, relata Felipe. Este relato se tornou parte da identidade da região, fazendo com que muitos moradores evitem olhar muito tempo para as sombras enquanto transitam por ali.
Um passado que ressoa
As memórias do menino loiro são repletas de nostalgia e medo, refletindo uma luta contínua do bairro em manter viva a história que se entrelaça ao cotidiano de Ribeirão Preto.
Sons misteriosos no Cemitério da Saudade
O Cemitério da Saudade, o mais antigo da cidade, também é palco de histórias fantásticas. Entre as lendas, destaca-se a de Reinaldinho, um garoto de apenas quatro anos que teria falecido em 1963. Trabalhadores do cemitério afirmam que, em algumas noites, é possível ouvir o som de um velotrol, o brinquedo favorito da criança, se movendo pelos túmulos. Mesmo com o portão do cemitério já trancado, os ecos das risadas de Reinaldinho parecem persistir no ar.
Felipe explica que o cemitério é repleto de relatos que alimentam o imaginário popular. “As histórias contam que, enquanto você está lá trabalhando à noite, pode ouvir sons estranhos. É um lugar onde o passado e o presente se cruzam de forma misteriosa”, conta.
A carta macabra do Dr. Edwar
Outra lenda que atrai a atenção é a carta anônima endereçada ao delegado Dr. Edwar na década de 1970. A mensagem, recebida em uma delegacia de bairro, descrevia as mudanças na cidade e fazia referências a crimes não elucidáveis. No final, o autor revelava uma confissão perturbadora acerca de nove indivíduos que, segundo ele, teriam sido sepultados entre os escombros.
Essa história, popularizada pelo escritor Aristide Marchetti, espelha o medo e a curiosidade acerca do sobrenatural, visto que os locais mencionados na carta são reais e marcam a história da cidade.
Entre o fato e a ficção
Marchetti explica que sua intenção ao criar essa lenda foi destacar os aspectos sombrios da história de Ribeirão Preto, utilizando crimes não solucionados como inspiração. “As lendas urbanas têm uma energia própria que conecta o passado ao presente, criando um diálogo entre o que somos e o que fomos”, afirma.
A importância das lendas urbanas
Para Aristide e Felipe, as lendas urbanas vão além do entretenimento; elas fazem parte do patrimônio cultural de Ribeirão Preto. Preservar essas histórias é, de certa forma, uma maneira de honrar o passado e as vivências de cada geração. “As lendas criam uma conexão com o inconsciente coletivo e ajudam a formar a identidade cultural da cidade”, conclui Felipe.
Essas narrativas folclóricas, com suas camadas de terror e um toque de realidade, nos mostram que a tradição oral tem um papel fundamental na cultura urbana, ligando a memória à imaginação e mantendo vivo o espírito de Ribeirão Preto.


