A recente operação policial no Rio de Janeiro, considerada a mais letal da história do estado, resulta em um cenário alarmante que permeia debates sobre a violência, racismo e a eficácia das estratégias de segurança pública. Com 121 mortos, a operação se tornou uma nova imagem de um ciclo de violência que ainda assola muitos bairros da cidade, especialmente na Zona Norte, onde estão localizados os complexos do Alemão e da Penha.
A resposta do governo e a retórica da guerra
O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, se posicionou de forma polêmica ao qualificar os mortos como “criminosos” que não mereciam ser julgados. Essa retórica de “guerra” contra o tráfico se intensifica, promovendo a ideia de que as mortes são um necessário efeito colateral na luta contra facções criminosas. Curiosamente, essa narrativa tem o apoio de parte da população, refletindo uma aceitação, se não um apoio, à violência como um instrumento na guerra contra o crime.
A ausência de um alvo principal
Em meio a um grande número de baixas, a operação falhou em capturar o principal alvo, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”. O fator que provavelmente almejavam atingir muitas vezes não é alcançado em operações dessa magnitude, levantando a questão: até que ponto a morte de tantos jovens é justificada se o objetivo ainda está longe de ser concretizado?
A imagem que choca e ressoa
Por trás das estatísticas, o que realmente fica é a imagem de corpos estirados em uma praça, um retrato sombrio que ecoa experiências de moradores que vivenciam as operações policiais de perto. Este evento, embora descrito como um sucesso pelo governo, levanta questões éticas profundas sobre a forma como são tratadas as vidas das pessoas mais vulneráveis da sociedade.
A eficácia das operações e a reação da sociedade
Apesar das operações e do aumento no número de mortes, a área dominada por grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro não só se manteve, como também se expandiu. Um estudo de 2024 revelou que o domínio das facções aumentou de 8,4% para 18,2% desde 2008, sugerindo que mais mortes não significa, necessariamente, mais segurança.
A falta de soluções eficazes
O novo cenário revela que as abordagens tradicionais de segurança não estão surtindo o efeito desejado. Isolar e transferir líderes de facções, como o caso de My Thor, que continua a gerenciar suas operações por trás das grades, apenas demonstra que a resposta do estado é insuficiente e desatualizada. O controle das facções requer uma combinação de inteligência, preparação, recursos e, acima de tudo, integração entre os diferentes níveis de governo.
O que está em jogo?
O controle externo das polícias e a criação de ouvidorias independentes são propostas que enfrentam resistência, mas são necessárias para prever malfeitos e garantir a eficácia nas investigações. No entanto, governadores, como Claudio Castro, seguem resistindo a mudanças, o que irá perpetuar este ciclo de violência e impunidade.
Como a sociedade pode confiar em um sistema que aparentemente não consegue proteger os cidadãos enquanto se perde em seus próprios discursos de guerra? É vital que o governo e a sociedade como um todo reavaliem suas posturas e busquem soluções que não se limitem a mais mortes, mas que promovam dignidade e segurança para todos.
Em resumo, a operação policial no Rio de Janeiro expõe um dilema profundo e complexo que envolve não apenas estratégia de combate ao crime, mas uma questão essencial sobre os direitos humanos e a vida em comunidade. O desafio não é apenas vencer o crime, mas encontrá-lo em sua raiz e buscar soluções sustentáveis que beneficiem a todos.



