No contexto do 60º aniversário da declaração Nostra aetate, o arcebispo de Rabat, cardeal Cristóbal López Romero, exalta o impacto dessa importante declaração do Concílio Vaticano II nas relações da Igreja com as religiões não cristãs. Para ele, o documento foi um divisor de águas, promovendo a compreensão e o respeito mútuo em vez do confronto.
Um marco histórico para a Igreja
A Nostra aetate, promulgada em 1965, não apenas transformou a visão da igreja sobre outras religiões, mas também possibilitou que muitos religiosos trabalhassem em países com maioria muçulmana, como o Marrocos. O cardeal cita sua experiência ao participar de um instituto ecumênico onde católicos e protestantes dialogam e colaboram com muçulmanos. “Hoje, graças à Nostra aetate, podemos compartilhar conhecimentos e experiências em ambientes que antes eram hostis”, explicou.
O legado do passado
Romero fez uma analogia sobre os tempos em que o zelo religioso era interpretado de forma agressiva. Ele se lembrou de uma anedota de um padre dos anos 50 que incentivava jovens a atacar templos protestantes. Essa ideia de que a fé era uma batalha foi substituída pela promoção do diálogo e do entendimento, uma mudança que ele considera crucial e necessária.
Reconhecendo um Deus universal
O cardeal ressalta que a Nostra aetate enfatiza que Deus é um pai universal, e que nenhuma nação ou religião pode monopolizar a relação com Ele. “Nós pertencemos a Deus e não o contrário”, afirmou. Essa visão inclusiva propõe um Deus que deseja a salvação de todos os homens, refletindo o amor e o perdão que devem ser a base das relações inter-religiosas.
A presença do Espírito Santo
Romero também destaca a importância de reconhecer que o Espírito Santo opera em diferentes culturas e civilizações. Para ele, a ideia de que o Espírito pode ser “aprisionado” em uma única religião é limitada. “Devemos entender que há ‘sementes do Verbo’ em todos os lugares”, reforçou.
A busca pela paz inter-religiosa
O cardeal citou o Papa Francisco, que, em suas encíclicas, amplia a mensagem da Nostra aetate ao afirmar que a a humanização e a paz são essenciais para a sobrevivência da sociedade. “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões”, afirmou, lembrando que o diálogo inter-religioso é uma responsabilidade comum.
Compreendendo a pluralidade
Romero acredita que a pluralidade religiosa é uma manifestação do desejo humano de buscar a verdade e o significado da vida. Essa diversidade deve ser respeitada e trabalhada em conjunto para que as religiões contribuam para a paz global, e não para a divisão.
Compromissos em prol da fraternidade
O arcebispo apelou para que cristãos e seguidores de outras religiões tomem medidas concretas para promover o diálogo: “Devemos formar as novas gerações a respeito da tolerância e do respeito mútuo.” Isso inclui a educação contra o fundamentalismo e a promoção dos valores espirituais de todas as crenças.
Além disso, é essencial trabalhar em conjunto pela justiça e pela fraternidade humana. O cardeal concluiu sua reflexão destacando a necessidade de cooperar como uma única família que compartilha a responsabilidade de cuidar e preservar o mundo.
Conclusão: Um futuro promissor
A mensagem do cardeal Cristóbal López Romero toca em um ponto sensível e relevante em um mundo cada vez mais plural e dividido. A Nostra aetate não é apenas um documento, mas uma chamada à ação para todos os que buscam construir um futuro de paz e harmonia entre os povos. Como ele bem diz, “nossa casa é o mundo, e nossa família é a humanidade”.
* arcebispo de Rabat


