No contexto em que o mundo recorre à África em busca de liderança moral e soluções para o desenvolvimento, a Conferência dos Bispos da África Austral (SACBC), em colaboração com Caritas África e outras organizações, lançou um documento histórico intitulado “Alimentar. Curar. Libertar África – Uma Defesa Africana Liderada por Irmãs pela Alimentação Escolar Regenerativa, Saúde das Mulheres e Justiça da Dívida”. A apresentação do documento ocorreu na sede da SACBC, Khanya House, em Pretória, e foi recebida oficialmente pelo Dr. Lawrence Matemba, representante da Presidência sul-africana do G20.
A fé guiando o caminho para uma ordem global justa
Coordenado pela Iniciativa Fé, Alimentação e Justiça em Saúde (FFHJI), o documento desafia as principais economias do planeta a garantir que a dívida sirva à vida, e não o contrário. Propõe um sistema econômico onde “cada refeição compartilhada seja uma semente de justiça; cada corpo curado, um sinal de libertação.” Após o evento, Dom Thulani Victor Mbuyisa CMM, presidente da Ação Social da SACBC, enfatizou a importância da mensagem, destacando que se trata da “voz profética da África sendo ouvida na tomada de decisões globais”.
“Hoje apresentamos ao G20 e à ONU Mulheres um apelo moral que não pode permanecer à margem”, afirmou Mbuyisa. “Os tópicos de alimentação, saúde e justiça da dívida devem se tornar prioridade na agenda das reuniões entre líderes globais. É parte da dignidade humana — é, na verdade, sobre a própria vida.”
Fé em ação por uma recuperação justa
No discurso intitulado “Alimentar. Curar. Libertar. África — Fé em Ação por uma Recuperação Justa,” Dom Mbuyisa destacou como a fome, as mortes maternas e o peso excessivo das dívidas ameaçam o futuro do continente. Ele reafirmou que “o nosso continente abriga a população mais jovem do mundo, dons naturais abundantes e uma profunda sabedoria moral enraizada na fé e na comunidade. No entanto, nossa promessa é enfraquecida pela fome, pela doença e pela dívida.”
O bispo lançou um alerta contundente: “Muitas crianças passam fome não porque falta comida, mas porque falta justiça. Muitas mães morrem não porque a cura seja impossível, mas porque os sistemas de saúde são inadequadamente financiados. E muitas nações permanecem endividadas não por falhas próprias, mas porque as estruturas da economia global não foram construídas para servir os pobres.”
Ele pediu que a Presidência sul-africana do G20 veja sua posição como “não apenas uma oportunidade diplomática, mas uma responsabilidade moral”, incitando os líderes mundiais a reconsiderar os sistemas econômicos em benefício da vida: “Que cada alívio de dívida se torne um investimento em mulheres e crianças. Que cada decisão fiscal proteja a dignidade de uma mãe, o futuro de uma criança e o bem-estar de uma nação.”
Dom Mbuyisa baseou seu apelo na Doutrina Social da Igreja, enfatizando que a solidariedade recorda à humanidade seu destino comum, um bem que requer prosperidade inclusiva e dignidade humana, exigindo ações que protejam a vida em todas suas fases. Ele também solicitou a inclusão formal das comunidades de fé — especialmente das mulheres consagradas — na elaboração e monitoramento das políticas do G20, destacando que “a parceria com elas não é caridade; é boa governança.”
Esses apelos ressoam com o recente discurso do Papa Leão XIV na sede da FAO, onde ele declarou que “vencer a fome é o caminho para a paz,” descrevendo a fome como “uma ferida moral que aflige toda a família humana.” O Papa exortou a agir para além de slogans, afirmando que “quem sofre de fome não é um estranho — é meu irmão, e devo ajudá-lo sem demora.”
Fé em ação: Igreja e Irmãs unidas
A força que impulsiona a iniciativa é proveniente da combinação da Iniciativa Fé, Alimentação e Justiça em Saúde, da Comissão Justiça e Paz e das mulheres consagradas em toda a região da SACBC. Juntas, elas formam uma rede de fé que conecta a advocacia às realidades vividas em escolas, clínicas e paróquias.
A Irmã Dra. Macdelyn Mosalagae SC, uma das vozes principais da campanha, sintetizou a iniciativa como uma missão que transcende o espiritual: “Já não somos apenas mulheres de véu. Somos curadoras, educadoras e agricultoras. Enfrentamos de perto as realidades da fome e da pobreza, e queremos que o G20 saiba — verão mais de nós.”
Ela acrescentou que as Irmãs Católicas incorporam a visão da campanha: “Nós alimentamos para curar, curamos para libertar — porque quando a dívida serve à vida, a justiça é realizada.”
Um clamor por justiça e mudança radical
No painel moderado por Sheila Pires, Wesley Chibamba da Caritas África enfatizou a necessidade de uma liderança global audaciosa, afirmando que “isso já foi feito antes — a dívida pode ser cancelada novamente. Precisamos de um reajuste econômico em que ninguém vá dormir com fome, em que as mulheres sejam tratadas com igualdade, e em que as economias sirvam à humanidade, e não aos mercados.”
Victoria Mutambaa, do Serviço Jesuíta aos Refugiados, …





